Fumar e amamentar: combinação para filho obeso
Pesquisa da UERJ mostra que tabagismo materno no período de amamentação aumenta probabilidade do bebê se tornar um adulto obeso
27/12/2019
Planeta Colabora
Edição 274
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Foto 1 - Mãe fumando com bebê no colo:
pesquisa indica que tabagismo materno leva à obesidade do filho quando adulto
(Foto: MAY/BSIP/AFP)
Tabagismo das mães durante o período da
amamentação, após o término da gravidez, aumenta a probabilidade da criança
apresentar obesidade na vida adulta, de acordo com pesquisa desenvolvida na
Universidade do Estado do Rio Janeiro (UERJ) pela nutricionista Thamara Cherem
Peixoto, que cursa o doutorado no programa de Pós-Graduação em Biociências, com
apoio da FAPERJ. Alterações nutricionais e ambientais, como o uso de cigarro
durante a amamentação, podem levar à obesidade em razão da disfunção do tecido
adiposo marrom.
"Como muitas mães param de fumar durante a
gestação, mas retornam durante a lactação, acreditando que não vão prejudicar
seus filhos, utilizamos os modelos experimentais de tabagismo materno durante a
lactação para entender melhor os malefícios que o cigarro pode acarretar a
longo prazo para esses descendentes, mesmo após a retirada da exposição" - Thamara
Cherem Peixoto, nutricionista e doutoranda em Biociências
A pesquisadora explica que este tecido nos
mamíferos está relacionado à termogênese - mecanismo que permite dispersar
energia sobre forma de calor - e à regulação do gasto energético. "O
tabagismo durante a lactação reduz a capacidade termogênica desse tecido, ou
seja, o indivíduo gasta menos energia, o que favorece o acúmulo de peso e gordura
corporal", explica Thamara.
A pesquisa começou em 2018 através de
experimentos em ratos do tipo Wistar, incluindo mães e filhotes. "Como
muitas mães param de fumar durante a gestação, mas retornam durante a lactação,
acreditando que não vão prejudicar seus filhos, utilizamos os modelos
experimentais de tabagismo materno durante a lactação para entender melhor os
malefícios que o cigarro pode acarretar a longo prazo para esses descendentes,
mesmo após a retirada da exposição", explicou a nutricionista.
De acordo com o estudo, a obesidade
desenvolvida pode ser explicada pela redução da capacidade termogênica do
tecido adiposo marrom dos filhotes. "Vimos que uma disfunção no tecido
adiposo marrom dos filhotes, relacionada à redução da atividade simpática do
nervo que vai para esse tecido, compromete a atividade termogênica, favorecendo
o acúmulo de gordura corporal", explicou Thamara.
No modelo aplicado, a pesquisa foi
desenvolvida com ratos Wistar e, principalmente, com tecido adiposo marrom,
tecido adiposo branco e hipotálamo. O estudo foi elaborado com três diferentes
desenhos experimentais: modelos fumaça, nicotina e desmame precoce. Cada
experimento durou em torno de oito meses e envolveu etapas de acasalamento,
gestação (3 semanas), lactação (3 semanas) e programação (26 semanas), além do
período dedicado às análises (6 meses por modelo).
"Já foi demonstrado em animais experimentais
que o desmame precoce (retirada da amamentação exclusiva antes dos 6 meses) também
é um fator de programação metabólica, uma vez que favorece o aumento de peso e
gordura corporal, alterações hormonais, resistência à leptina e redução da
termogênese na idade adulta. Então a única opção seria o abandono do vício" - Thamara
Cherem Peixoto, nutricionista e doutoranda em Biociências na UERJ
Os experimentos demonstraram que os filhotes
desenvolvem obesidade, resistência à insulina e à leptina. Foi constatado ainda
que também existe uma disfunção do tecido adiposo marrom que compromete a
atividade termogênica, favorecendo o acúmulo de gordura. Os resultados deste
estudo foram publicados recentemente em periódicos científicos, o mais recente
na revista Neuroscience, da International Brain Research Organization
(IBRO).
Para a pesquisadora, o trabalho desenvolvido
na UERJ vai ajudar a entender melhor doenças dos seres humanos e servir de base
para políticas de saúde. "Esses conhecimentos permitem que as autoridades
públicas criem políticas para alertar as mulheres fumantes sobre os riscos
impostos às crianças durante a amamentação, mesmo que as mães fumem longe de
seus filhos, ajudar a entender melhor quais mecanismos estão envolvidos na
obesidade e prevenir ou tratar adequadamente os distúrbios tardios",
argumentou Thamara.
A nutricionista refutou enfaticamente a
possibilidade de as mães fumantes deixarem de amamentar para evitar os
prejuízos futuros aos bebês. "Já foi demonstrado em animais experimentais
que o desmame precoce (retirada da amamentação exclusiva antes dos 6 meses)
também é um fator de programação metabólica, uma vez que favorece o aumento de
peso e gordura corporal, alterações hormonais, resistência à leptina e redução
da termogênese na idade adulta. Então a única opção seria o abandono do vício,
pois a retirada do leite materno antes do tempo recomendado pela Organização
Mundial de Saúde (6 meses) também é prejudicial à saúde", destacou.
Por: Oscar Valporto