O Homem Que Olhava

Uma homenagem ao amigo, fotógrafo e parceiro da Cultura de Miguel Pereira; um artista da arte de "olhar": Paulinho Vizeu.

 03/01/2020     Crônica      Edição 275
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Ele era um homem que olhava tudo. Onde havia beleza, alegria, novidade, lá estava ele. Sua curiosidade era refletida nas imagens que produzia. Um artista. Nada lhe escapava: momentos, pessoas, emoções, sentimentos, sorrisos, alegrias, histórias.  Sim, ele era um grande historiador da vida de todos, pois ele era o homem que olhava.  Certa vez, no calor de um sol pungente, coberto de protetor solar e de boné, lá estava ele "olhando" os soldados que marchavam, os alunos que andavam, o espectador que se emocionava, o cachorro que passeava, a banda que passava; porém, longe de seu olhar, todos o olhavam. Todos sabiam que aquele artista pintaria seu quadro numa moldura de histórias, cujo álbum ficaria para sempre na lembrança de todos que o olharam.

Ele era um homem que olhava tudo. E cada olhar, como um click de uma máquina fotográfica, transcrevia em imagens a nossa vida. Ele era amigo do rei, que o reconhecia por sua arte, fazendo com que todos desse reino também o olhassem. E todos olharam. E todos riam diante dele, fazendo pose, mostrando graça, escrevendo fatos para todos que olhavam. Ele, o homem que olhava, registrava em suas memórias as memórias de cada um. Rápido, agitado, decidido, convicto do que olhava, envolveu amigos a olharem com ele, e eles o seguiram. E eles olhavam o que ele olhava.

Mas o tempo passou, o Sol se escondeu atrás das nuvens, as chuvas se precipitaram em confundir as lágrimas, o tempo parou, e o homem que olhava não olhou. Agora, cada um que viu o seu olhar pinta em lembranças o homem que olhava, não deixando esquecer a imagem que passava, que em cada click o homem que olhava registrava.