Em busca do cimento de baixo carbono
Cientistas pesquisam alternativas sustentáveis para a indústria que, sozinha, responde por 9% das emissões mundiais de gás carbônico
10/01/2020
Planeta Colabora
Edição 276
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A indústria de cimento sozinha responde por
9% das emissões de CO2, mais do que todos os caminhões do mundo juntos. Outro
setor - o de edifícios (com iluminação e aquecimento) - é responsável por 6%
das emissões. Pesquisadores trabalham agora para produzir cimento de baixo
carbono: a captura de carbono e sua transformação em produtos úteis, de
plástico a combustível de avião, podem tornar mais acessíveis medidas de
combate à mudança do clima e se tornar um bom negócio.
Se a produção de cimento fosse um país, seria
o terceiro maior emissor, e não vai parar de crescer. Um exemplo são as cidades
chinesas de milhões de habitantes sendo construídas em ritmo acelerado ou o
aumento da demanda em economias como a Índia e partes da África. Pode-se pensar
em construir moradias com bambu ou impressas em papelão 3D, tudo muito
ecológico, mas sem possibilidade de escala significativa. E as cidades, como se
sabe, deverão ser cada vez mais verticais, um requisito para a
sustentabilidade.
Pesquisadores estimam que cerca de 90
trilhões de dólares serão necessários globalmente até 2030 para construção e
renovação de infraestrutura. Em grande parte, porque o mundo se torna cada vez
mais urbano.
Cientistas do MIT (Massachusets Institute of
Technology) se debruçam sobre maneiras de produzir cimento que poderiam
eliminar as emissões e ainda criar outros produtos úteis no processo. Yet-Ming
Chiang, professor de ciência e engenharia de materiais da instituição, diz que
cerca de um quilo de CO2 é liberado para cada quilo de cimento feito hoje; isto
resulta em cerca de 4 gigatoneladas (ou bilhões de toneladas). O número de
edifícios deverá dobrar até 2060, o que é equivalente a construir uma cidade de
Nova York a cada 30 dias, diz ele. E o material hoje é barato, custa apenas 13
centavos de dólar por quilo, mais barato que água engarrafada.
É um desafio reduzir as emissões de carbono
do material sem torná-lo muito caro. Chiang e colegas estudam há um ano
abordagens alternativas, e chegaram à ideia de usar um processo eletroquímico
para substituir o atual baseado em sistema dependente de combustíveis fósseis.
O cimento Portland, mais usado no mundo, é
feito de calcário moído e levado a um forno com areia e argila em alta
temperatura, produzida com a queima de carvão. O processo cria CO2 de duas
maneiras: através da queima do carvão e dos gases liberados pelo calcário
durante o aquecimento. O novo processo eliminaria ou reduziria drasticamente
ambas as fontes, mas tudo isso ainda vai exigir mais trabalho até se chegar a
uma escala industrial.
A nova técnica eliminaria o uso de
combustíveis fósseis, substituindo-os por eletricidade gerada por fontes
renováveis, e produziria o mesmo tipo de cimento, o que é importante para sua
aceitação. O dióxido de carbono, na forma de um fluxo puro e condensado, pode
ser facilmente concentrado em produtos de valor agregado, como o combustível
líquido, em lugar da gasolina ou usado em aplicações em bebidas carbonadas e
gelo seco. No processo existente, o CO2 é altamente contaminado com óxidos de
nitrogênio, óxidos sulfúricos e monóxido de carbono.
Há tentativas mais ousadas. Uma empresa de
energia solar chamada Heliogen, apoiada por Bill Gates, desenvolveu uma nova
tecnologia de fabricação industrial usando a energia do sol. Neste caso, os
raios solares captados pelos painéis são direcionados a sais que precisam ser
fundidos para gerar vapor, movendo turbinas e produzindo energia.
A Heliogen afirma que o calor gerado pode
atender a necessidade de outras atividades, como a manipulação de ferro e
cimento, também com menos emissões de CO2. "Para abrigar as 7,5 bilhões de
pessoas no planeta, os ingredientes são cimento e aço" - lembra o CEO da
empresa, Bill Gross - "e ambos geram uma quantidade enorme de CO2".
Foto 1 - Construção de prédio em Moscou: num
mundo cada vez mais urbano, a produção de cimento responde por 9% das emissões
de CO2. (Foto: Maksim Blinov/Sputnik/AFP)