Conde de Frontin pela Santa Sé
O engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin nasceu na raiz da Serra de Petrópolis em 1860. Foi ele quem estruturou a Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil.
14/02/2020
Historiador Sebastião Deister
Edição 281
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O
engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin nasceu na raiz da Serra de Petrópolis
em 1860. Diplomado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1879 (quando
contava apenas 19 anos), já era catedrático da mesma escola e do renomado
Colégio Pedro II aos 21 anos, o que bem atesta sua inteligência invulgar e seu
profundo talento na área de engenharia. No início de 1889 propôs ao Governo Imperial
aumentar em mais de 15 milhões de litros o potencial de abastecimento de água
do Rio de Janeiro em apenas uma semana para evitar a iminente ameaça de sede e
epidemias que rondavam a população carioca. Apesar da descrença de muitas
autoridades e do deboche da imprensa e de opositores de sua ideia, o êxito da
operação foi incontestável e o incrível empreendimento ficou conhecido como água
em seis dias, projetando para todo o Brasil o nome do jovem
engenheiro.
Foi ele
quem estruturou a Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil - da qual seria
sócio fundador e primeiro presidente de 1896 a 1897 e depois de 1910 a 1914 e que, em 1903,
seria rebatizada como Estrada de Ferro D. Pedro II- empresa fundada no Rio de
Janeiro em 17 de maio de 1890 em parceria com os amigos e companheiros de
trabalho Francisco Bicalho, Henrique Eduardo Hargreaves e Luiz Raphael Vieira
Souto, entre outros. Destinada a implantar na Serra do Tinguá e no vale do rio
Santana a Linha Auxiliar tão desejada pelo Imperador D. Pedro II e com um
contrato de construção assinado com o Governo da Província do Rio de Janeiro
desde 15 de março de 1882, os planos da ferrovia previam tão somente a
implantação de um leito em bitola estreita, isto é, largura máxima de 1 metro entre trilhos. Por
outro lado, à frente da Companhia Melhoramentos do Brasil, Frontin realizou
inúmeras obras importantes no país, tais como a duplicação das linhas da Serra
do Mar (entre 1913 e 1914), o estudo de ligação Pirapora-Belém e a iluminação
das áreas das estações de Belém (hoje Japeri), Barra do Piraí e Cruzeiro (esta
já em São Paulo).
Durante o
Governo do Presidente Rodrigues Alves (de 1903 a 1906), notabilizou-se
como um dos mais constantes e profícuos colaboradores do prefeito Pereira
Passos na remodelação da cidade do Rio de Janeiro, chefiando a comissão
construtora da Avenida Central (atual Rio Branco). O projeto e a conclusão
dessa via pública de 33
metros de largura constituíram um empreendimento de
enorme vulto, pois foi entregue ao público em apenas 22 meses, após cortar
morros e demolir mais de 600 prédios no coração do Rio de Janeiro.
Em 1917,
Frontin foi eleito Senador pelo antigo Distrito Federal, porém logo renunciou
ao cargo para assumir a cadeira de prefeito do Rio de Janeiro. Em cerca de
apenas seis meses, realizou vários pacotes de serviços públicos que
proporcionaram um desenvolvimento extraordinário à cidade. Destacam-se, desse
período, obras como as avenidas Atlântica, Niemeyer, Rodrigues Alves e Delfim
Moreira; a definição do contorno e a dragagem da Lagoa Rodrigo de Freitas e a
construção do seu canal de ligação com o mar do Leblon; a abertura da avenida
do Rio Comprido - hoje avenida Paulo de Frontin - com a canalização do rio do
local e a urbanização de sua área de entorno; o prolongamento da avenida Beira-Mar;
a construção do túnel João Ricardo, ligando o Cais do Porto à Praça da
República e às adjacências da estação ferroviária D. Pedro II; a remodelação do
largo de Santo Cristo, na Gamboa; a construção do Jardim do Méier e dezenas de
outros trabalhos que colocaram seu nome eternizado nos anais políticos e
administrativos do Rio de Janeiro.
Frontin
exerceu ainda o cargo de Presidente do Clube de Engenharia por 30 anos, período
que aproveitou para erguer a sede dessa entidade na Avenida Central (hoje Rio
Branco). Pela dedicação prestada àquela instituição, veio a ser homenageado
pelos seus demais membros com o título de Presidente Perpétuo.
Paulo de
Frontin casou-se com D. Maria Leocádia de Toledo Dodsworth, a terceira filha de
Jorge João Dodsworth, o 2º Barão de Javary. Uma de suas filhas - Maria Elisa de
Frontin - casou-se com o Dr. Álvaro Cordeiro da Rocha Werneck, o sexto filho do
Barão de Werneck (José Quirino da Rocha Werneck) com sua segunda esposa, D.
Maria José Diniz Cordeiro. O casal Álvaro/Maria Elisa deu a Frontin os netos
Paulo, Haroldo, Álvaro Filho e Marilisa.
No dia 15
de fevereiro de 1893, Frontin, Bicalho, Hargreaves, Vieira Souto e outros
diretores da Companhia Melhoramentos do Brasil deram partida à construção da
Linha Auxiliar na Estação de Mangueiras, e em 1 de novembro de 1895 os trilhos
já alcançavam Honório Gurgel (km 17), daí destacando-se um ramal em linha reta,
com 3 km,
para a Estação de Sapopemba (hoje Deodoro).
Já em 29
de março de 1898, inauguravam-se pela Serra todas as estações da Linha Auxiliar
entre Paes Leme e Paraíba do Sul, além do Viaduto Dr. Paulo de Frontin em Vera
Cruz, um logradouro do município de Miguel Pereira.
Reconhecido
internacionalmente pela sua competência, honestidade, visão administrativa e
imensa capacidade de trabalho, André Gustavo Paulo de Frontin foi agraciado
pela Santa Sé em 1909 com o título de Conde de Frontin.
Paulo de Frontin faleceu aos 73 anos no Rio
de Janeiro no ano de 1933.