1º Visconde (e Barão) do Rio Novo com honras de grandeza, o José Antônio Barroso de Carvalho

A Nobreza do Vale do Paraíba Fluminense

 27/03/2020     Historiador Sebastião Deister      Edição 287
Compartilhe:       

Filho de Dâmaso José de Carvalho e de Magdalena Maria Barroso Pereira, José Antônio nasceu em 14 de fevereiro de 1816 no arraial de Sebollas (hoje Inconfidência, em Paraíba do Sul). Sobrinho do barão de Entre-Rios (Antônio Barroso Pereira), viu-se titulado como barão em 1856 e como visconde em 23 de julho de 1867, detendo, também, os títulos de Dignatário da Imperial Ordem da Rosa e Comendador da Imperial Ordem de Cristo.

Casou-se em 1832 com D. Mariana Claudina Barroso Pereira de Carvalho, filha do seu próprio tio (o barão de Entre-Rios) e, por conseguinte, sua prima em primeiro grau.  O casal recebeu como presente a fazenda batizada como Boa União (em terras de Três Rios) doada pelo tio e sogro que assim a batizou para significar o quanto ele desejava de felicidade para os dois.  

Ao longo da vida, o visconde sempre demonstrou preocupação com os enfermos e desvalidos. Muito fez pelo hospital de Petrópolis, além do fato de ter fundado a Santa Casa da Misericórdia de São João d'El Rei. Foi, com o tio e sogro, um dos principais edificadores da igreja da Ordem do Carmo de São João d'El Rei, pois a família Barroso Pereira cultivava a forte tradição Carmelita que remontava aos seus antepassados em Salto, em terras de Barroso, Portugal. Por outro lado, o visconde muito colaborou com o Governo Imperial cobrindo despesas de mais de trinta contos de réis chamadas "urgências do Estado" relativas à Guerra do Paraguai, ainda participando ativamente com os movimentos sociais e financeiros destinados a implantar a Estrada de Ferro D. Pedro II na área de Três Rios.

Político talentoso e muito estimado pela população sulparaibana, elegeu-se vereador várias vezes em Paraíba do Sul e Petrópolis, chegando nesta última cidade a ser presidente da Câmara Municipal como membro do Partido Conservador. Vale lembrar que, nessa época, presidente da Câmara equivalia ao cargo de prefeito municipal. Outra eficiente participação do visconde foi na construção da Estrada União e Indústria que acabou por atravessar grande parte de suas terras. Percebendo a importância da obra, logo se tornou um maiores acionistas da empresa que construiria a ligação Petrópolis - Juiz de Fora, inaugurada com grandes solenidades em 23 de junho de 1861 por D. Pedro II.

Na fazenda Boa União, acabou sendo conhecido pela alcunha de Major Carvalhinho. Com a morte do barão de Entre-Rios, herdou as fazendas Rua Direita e Piracema. Enquanto viveu, orientou com desprendimento e bom senso os negócios de sua sogra (a baronesa de Entre-Rios Claudina Venâncio de Jesus) na fazenda Cantagalo.

 

Libertou os escravos e dividiu suas terras e dinheiro com eles

 

Com apenas 53 anos, o visconde faleceu no Rio de Janeiro em 17 de outubro de 1869, sem deixar descendentes. Contudo, deixou libertos todos os seus escravos, cujos nomes fez questão de relacionar cuidadosamente, inclusive aqueles que recebera quando da morte do pai. A cada um deles, doou 2 alqueires para plantação e mais Rs.50$000 (cinquenta mil réis) para os que não quisessem viver da lavoura. Destinou, também, ótimas verbas para instituições sociais, inclusive Rs. 10.000$0000 (dez contos de réis) para uma Casa de Caridade que deveria ser erguida em Paraíba do Sul.

O visconde e a esposa possuíam terras no bairro de Vila Isabel (anteriormente titulado Colônia Agrícola Nossa Senhora da Piedade), no atual município de Três Rios, designação que buscava homenagear a Princesa Isabel. No local só existiam casas de pau a pique cobertas de sapê muito afastadas entre si, morando ali os escravos de D. Mariana Claudina Pereira de Carvalho, a viscondessa do Rio Novo. De fato. após a morte do marido a viscondessa recomendou expressamente que as terras da Colônia fossem imediatamente aforadas para a legalização da área. Enviuvando no ano de 1869, ela assumiu a direção de todos os negócios do visconde, cuidando de humanizar ainda mais o tratamento que dispensava aos negros sob sua tutela e logo legitimando judicialmente a Colônia Agrícola, espaço onde todos cuidavam das lavouras na condição de pessoas libertas.

Com a morte do visconde, Mariana Claudina repassou a fazenda Boa União a seu irmão Antônio Barrosos Pereira Junior, o 2º barão de Entre-Rios que, aliás, não permaneceu muito tempo na propriedade, visto que logo a transferiu para o seu genro, o médico Randolfo Augusto de Oliveira Pena. Em seguida, Mariana Claudina foi residir com a mãe na fazenda Cantagalo junto à entrada de Três Rios. A propósito, da enorme propriedade resta hoje tão-somente a capela de Nossa Senhora da Piedade que abriga o mausoléu da família.

Torna-se interessante registrar que Antônio Barroso não figura na História de Três Rios como conde, isto porque ele faleceu antes que tal título lhe fosse repassado. Por essa razão, apenas sua esposa Mariana Claudina veio a ser nobilitada como condessa, uma vez que ela assim foi agraciada quando já estava viúva em 1880. Três Rios, hoje, merecidamente homenageia Mariana Claudina com a designação condessa do Rio Novo aposta na principal avenida da cidade.

A viscondessa faleceu no dia 5 de junho de 1882 na cidade de Londres, onde se encontrava em tratamento de saúde.