Visconde e Barão de Cananéia - Bernardino Rodrigues de Avellar
Em 1876, hospedou a Princesa Imperial D. Isabel e seu marido, o conde d'Eu em seu admirável palacete no centro de Vassouras (herdado do pai e hoje abrigando os escritórios locais do IPHAN).
10/04/2020
Historiador Sebastião Deister
Edição 289
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Titulado barão em 15 de outubro de 1868
e visconde por Decreto de 18 de setembro de 1886, revelou-se um ótimo comerciante e
um militar muito devotado ao Império, tendo chegado ao posto de tenente-coronel
da Guarda Nacional.
Bernardino nasceu em
Vassouras em 1823, sendo filho do barão do Ribeirão (José de Avellar e Almeida)
e de D. Ana Barbosa de Sá, irmã do 1º barão de Santa Justa (Jacinto Alves
Barbosa), vindo a ser neto paterno de Manoel de Avellar e Almeida. No ano de
1875 recebeu a medalha de Oficial da Imperial Ordem da Rosa e, ato contínuo,
viu-se elevado à condição de comendador da mesma ordem.
Sem contestação,
Bernardino foi um dos maiores beneméritos de Vassouras, cidade em que exerceu
os cargos de vereador (de 1857
a 1865) e Presidente da Câmara Municipal¹ (de 1865 a 1877).
Além de contribuir com
elevadas quantias para as obras de conclusão do cemitério da cidade, o visconde
concretizou, a pedidos, as seguintes doações: 300 mil réis² para a compra de um
prédio destinado a abrigar uma escola pública; 200 mil réis² para serviços de
melhoria da estrada de ligação com o povoado de Massambará e 200 mil réis² para
a publicação dos escritos deixados pelo visconde de Araxá (Domiciano Leite
Ribeiro). Colaborou também nos trabalhos de implantação das estações
ferroviárias de Oriente e Serra, da Estrada de Ferro D. Pedro II, ambas
inauguradas em 1878. Unindo-se aos irmãos Marcelino de Avellar e Almeida (barão
de Massambará) e Laurindo de Avellar e Almeida (barão de Avellar e Almeida),
construiu a estação de Concórdia, ligada à mesma ferrovia, localizada nas
proximidades da fazenda Cachoeira de Mato Dentro, propriedade de seu pai.
Princesa Isabel e o conde d'Eu em Vassouras
O visconde foi ainda
fundador e membro da primeira diretoria da Companhia Ferro-Carril Vassourense,
da qual foi um dos maiores acionistas, e membro da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia de Vassouras, tornando-se seu provedor no ano de 1875. Em 1876,
hospedou em seu admirável palacete no centro de Vassouras (herdado do pai e
hoje abrigando os escritórios locais do IPHAN) a Princesa Imperial D. Isabel e
seu marido, o conde d'Eu, que foram especialmente a Vassouras para visitá-lo. A
propósito, a cama onde dormiu o nobre casal ganhou uma inscrição na madeira da
trave do leito lembrando esse fato, estando hoje em posse de um descendente do
visconde.
Ao longo do terrível
período em que o cólera devastou a cidade (1880), Bernardino transformou-se em
um dos mais ativos combatentes daquele mal em todo o município, tanto que não
se importou em despender quase toda sua fortuna na ajuda aos doentes, atitude
magnânima que abalou bastante seu patrimônio, uma vez que a produção de café
entrava em forte declínio no início daquela década. Basta dizer que em compra
de medicamentos, roupas e alimentos para os centenas de necessitados o visconde
gastou mais de 120 contos de réis, destinando outros 22 contos² para diversos
tipos de auxílio à cidade que tanto amava. Já em 1882, quando o algoz de
Vassouras foi a febre amarela, lá se encontrava Bernardino e família abrindo
sua bolsa para salvar a cidade de uma nova epidemia. Como reconhecimento por
tantos benefícios e desprendimento por parte do visconde, a população
vassourense ofereceu-lhe seu retrato pintado a óleo por Rocha Fragoso. Já em 3
de junho de 1882, Vassouras assistiu a uma alegre e concorrida comemoração
popular organizada pelos pobres em homenagem a Bernardino, a qual ficou
conhecida como Festa da Pobreza.
Por outro lado, o poder
público vassourense também homenageou Bernardino, colocando seu título Cananéia
em um dos bairros da cidade.
O barão e visconde
casou-se pela primeira vez com sua sobrinha Carlota Elisa de Avellar e Almeida,
nascida em 1833, filha de Marcelino de Avellar e Almeida (barão de Massambará).
Relembremos, ainda, que
outro irmão do visconde titulado pelo Império foi o barão de Avellar e Almeida
(Laurindo de Avellar e Almeida). A exemplo do pai e do seu irmão Marcelino,
Bernardino colaborou substancialmente com a Província do Rio de Janeiro em
1867, doando para a mesma a quantia de 6 contos de réis a fim de prover parte
das necessidades de envio de tropas brasileiras para a Guerra do Paraguai,
embora dois anos antes já tivesse custeado as despesas com o fardamento
completo de 50 voluntários destinado àquela refrega. Bernardino faleceu em
Vassouras em 12 de abril de 1896.
O visconde teve quatro
filhos do primeiro casamento:
1. ALFREDO CARLOS RODRIGUES DE AVELLAR - Casado com Constança
Furquim Werneck de Almeida, neta do barão de Paty do Alferes (Francisco Peixoto
de Lacerda Werneck), com quem teve 10 filhos: José Carlos, Virgílio, Carlota,
Lívia, Stela, Celeste, Celina, Renato, Armando e Maria de Lourdes
2. ORMINDA
RODRIGUES DE AVELLAR - Descendência desconhecida
3. VIRGÍLIO RODRIGUES DE AVELLAR - Descendência desconhecida
4. CARLOS
RODRIGUES DE AVELLAR - Descendência desconhecida
De um
segundo casamento, o visconde gerou apena uma filha chamada Maria Virgília de
Avellar.
Nota da
Redação
1. Em 1887 o cargo de Presidente da
Câmara correspondia o de prefeito municipal.
2. Segundo o escritor e historiador Paulo Rezzutti, no livro D. Pedro II - A História Não Contada - O Último Imperador do Novo Mundo
Revelado, um conto de réis equivalia a 1kg de ouro, 300 reis correspondia a 0,3
conto de réis. Hoje o kg do ouro corresponde a R$ 270.000,00 reais.