Perda de gelo dobra na Groenlândia
Estudo aponta que derretimento de 600 bilhões de toneladas em dois meses de 2019 elevou o nível do mar em 2,2 mm
10/04/2020
Planeta Colabora
Edição 289
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Em apenas um verão, no ano passado, o manto
de gelo da Groenlândia perdeu 600 bilhões de toneladas de água, que elevaram o
oceano no mundo inteiro em 2,2 milímetros. A conclusão é de uma nova análise de
dados de satélite publicada por um grupo internacional de cientistas. O
derretimento de 2019 só é comparável ao recorde absoluto de 2012, quando a
segunda maior massa de gelo da Terra perdeu 650 bilhões de toneladas. A perda
anual entre 2002 e 2019 na ilha foi de 268 bilhões de toneladas. Para se ter ideia
do que isso significa, o Brasil produz por ano 245 milhões de toneladas de
grãos.
Olhando para a Antártida, maior manto de gelo
do planeta, os pesquisadores tiveram uma notícia menos ruim: embora três
regiões do continente tenham tido perdas de gelo somadas de 3 trilhões de
toneladas desde 2002, a partir de 2009 uma quarta área no leste antártico
passou a ganhar gelo, acumulando 980 bilhões de toneladas e desacelerando a
taxa de perda anual. Atenção, negacionistas: não é que a Antártida tenha parado
de derreter, é que a velocidade com que o derretimento cresce arrefeceu.
O estudo foi conduzido por um grupo liderado
pela pesquisadora italiana Isabella Velicogna, da Universidade da Califórnia em
Irvine, e publicado no periódico Geophysical Research Letters. Mais do que
medir perda de gelo, a cientista e seus colegas estavam tentando resolver um
problema com uma ferramenta.
Eles queriam verificar se dois satélites
gêmeos enviados ao espaço em 2018 haviam conseguido substituir com sucesso
equipamentos idênticos que pifaram no ano anterior.
Os satélites em questão são a missão Grace
(Experimento de Recuperação de Gravidade e Clima). Trata-se de um par de
satélites que voam perfeitamente alinhados. Sempre que ocorre uma variação do
campo gravitacional da Terra, um deles é puxado com mais ou menos força que o outro
e um desalinho quase imperceptível acontece. Esse desalinho é convertido em
massa.
Quando o gelo dos polos derrete, o campo
gravitacional fica mais fraco naquela região, e os dados do Grace permitem
estimar a quantas toneladas de gelo equivale a diferença no puxão.
O Grace teve uma pane na bateria em 2017 e
parou de funcionar. Uma missão de backup, a Grace-FO, foi lançada em
2018. O que Velicogna e seus colegas queriam saber era se era possível comparar
as séries de dados dos dois sistemas. A resposta foi sim.
O degelo dos mantos polares hoje é o
principal fator de elevação do nível do mar. Desde os anos 1990, ele é
observado de forma acelerada na Groenlândia. Neste século, a Antártida passou a
acelerar seu degelo também, especialmente na porção oeste. O oeste antártico é
hoje a principal preocupação dos cientistas em termos de elevação dos oceanos,
já que quatro de suas geleiras - que, juntas, poderiam acrescentar 3 metros ao
nível global do oceano - já dão sinais de colapso irreversível.
Nesse ponto, disse Velicogna em um
comunicado, o acúmulo de gelo visto no leste antártico (que é mais alto e mais
frio do que o oeste, portanto responde ao vapor extra aportado pelo aquecimento
da Terra com mais precipitação de neve) não chega a ser um alívio. "Na Antártida,
a perda de massa no oeste continua irrefreável, o que é muito ruim para o nível
do mar", afirmou. "Mas também observamos um ganho de massa no setor
atlântico da Antártida Oriental causado por um aumento na queda de neve, o que
ajuda a mitigar a enorme perda de massa que vimos nas últimas duas décadas em
outras partes do continente", acrescentou.
Foto 1 - Blocos de gelo boiam no mar ao leste
da Groenlândia: derretimento de 600 bilhões de toneladas, o dobro da média.
(Foto: Pierre Vernay/BiosPhoto/AFP)
Foto 2 - Blocos de gelo no Oceano Atlântico,
perto da Groenlândia: degelo dos mantos polares hoje é o principal fator de
elevação do nível do mar. (Foto: Science Photo Library/AFP)