Andrade Pinto & Andrade Costa

A estação ferroviária de Andrade Pinto, no quilômetro 170,317 da ferrovia e a uma altitude de 295,02 m, foi inaugurada em 5 de maio de 1867

 22/01/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 329
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A estação ferroviária de Andrade Pinto, no quilômetro 170,317 da ferrovia e a uma altitude de 295,02 m, foi inaugurada em 5 de maio de 1867 utilizando as antigas instalações do pouso chamado Alferes, conhecido então como Ubá. Em 29 de outubro de 1868, segundo o relatório apresentado pelo conselheiro Manoel da Cunha Galvão ao também conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão, ministro e secretário de Estado de Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, "A plataforma (da estação de Ubá) não é coberta, de maneira que os passageiros têm de entrar nos carros e subir expostos à chuva ou ao sol."  

O prédio, provavelmente, não era o mesmo de hoje. Mais tarde, a estação teve o nome alterado para Paty, até que finalmente passou a se chamar Andrade Pinto, homenageando José de Andrade Pinto, antigo subdiretor da ferrovia. Ele foi o responsável pela construção da Ponte dos Marinheiros sobre o Canal do Mangue, no Rio de Janeiro, em 1907, e a revista Manchete, de 1957, conta a história sobre a sua morte:

"Os muros de arrimo da linha elevada que se veem na Ponte dos Marinheiros foram construídas de concreto armado, utilizado, pela primeira vez entre nós em obras desse tipo. Em torno desses muros, constituídos por painéis de simples armaduras, engastados em "gigantes" de natureza idêntica, é que se construiu a lenda da morte do engenheiro José de Andrade Pinto, que teria se suicidado com medo de que a ponte ruísse à passagem da primeira composição ferroviária. Não passa de lenda, no entanto. O engenheiro morreu a 24 de outubro de 1907, doze dias depois da inaugurados os trabalhos de elevação, colhido por uma locomotiva na Linha Auxiliar, cujos trilhos passavam nos fundos de sua casa, na Rua São Francisco Xavier (Tijuca). A verdade em torno da qual se fez a lenda é que o engenheiro Andrade Pinto, então chefe da linha, foi vítima do excesso de trabalho, no cumprimento do dever. Devido ao grande esforço que fizera na execução da obra e em trabalhos de recuperação de linhas da serra da Mantiqueira, danificadas por grandes enchentes, ele tinha ordem médica de repouso absoluto. Mas uma noite conseguiu iludir a vigilância de seus enfermeiros e pôs-se a percorrer, sozinho, a via férrea, sendo colhido pela locomotiva. A idéia de suicídio foi afastada pela declaração do maquinista, que afirmou tratar-se de acidente".

Em 1940, a vila de Andrade Pinto, então sede de um dos distritos do município de Vassouras, era mais populosa que a cidade sede, possuindo em volta diversas fazendas e indústrias. No entanto, 50 anos depois, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, de 1990, a vila de Andrade Pinto, ao redor da estação, somente não desapareceu totalmente com o fim do trem nos anos 1970 porque estava contígua à movimentada Rodovia Lúcio Meira (BR 393). Mesmo assim, três em cada cinco habitantes já haviam ido embora. Em 2009, a estação estava bem conservada, recebendo a passagem dos trens de carga administrados pela empresa MRS Logística S/A, concessionária que opera a chamada Malha Regional Sudeste da extinta Rede Ferroviária Federal S. A., cujos comboios atravessam a maioria dos municípios do Sul Fluminense.

O distrito abrigou, por um bom tempo, um campo de trabalho representado pela Cooperativa Central dos Produtores de Leite (CCPL), empresa brasileira fabricante de laticínios fundada em 1946 no bairro do Colubandê, no município de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A fábrica foi pioneira no país na fabricação de leite longa vida e iogurtes, construindo, com o tempo, uma marca forte na memória dos consumidores fluminenses. No segundo quartel do século passado, a empresa montou uma filial na área de Andrade Pinto, ali processando milhares de litros de leite por dia e empregando muitas famílias residentes em sua área periférica, principalmente aquelas vindas de Vassouras, Paty do Alferes e Paraíba do Sul. Em 2002, a empresa fechou devido à forte concorrência e a mudanças no mercado. Foi reaberta quatro anos depois, mas o grande espaço ocupado pelas suas dependências em Andrade Pinto nunca mais voltaram a funcionar. No local hoje existem apenas prédios abandonados e antigos equipamentos atacados pela ferrugem.

Distrito de Andrade Costa

A estação de Andrade Costa foi inaugurada em 29 de março de 1898 com seu nome derivando de Gabriel de Andrade Costa, engenheiro então recém-falecido da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil, o embrião da Estrada de Ferro Central do Brasil criada pelo Imperador D. Pedro II. A pequena estação, levantada no quilômetro 148, 768 da ferrovia, está situada a uma altitude de 407,500 metros em relação ao nível do mar. À época dos trens, servia de ponto de passagem para as composições que, vindas de Vila Rica (Avelar) desciam a serra dos Taboões em direção a Cavaru, daí seguindo, em sequência, para Werneck e Paraíba do Sul.

Nas proximidades da estação, funciona o Museu do Val de Literatura, provavelmente o único em todo o Estado Rio de Janeiro. Trata-se de uma iniciativa do casal Carlos Ribeiro do Val (escritor, jornalista, editor e ex-professor de Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do PEN Clube do Brasil e da Academia Carioca de Letras) e Minervina Almeida do Val em conjunto com alguns de seus descendentes. Anualmente, a casa promove um Festival de Poesia e recitação de autores clássicos, com destaque para os poetas e escritores da região de Vassouras, Paty do Alferes e Paraíba do Sul.

Segundo seu criador, há muito se sentia no Brasil a falta de um museu de literatura, abrangendo escritores de todo o país e de  todas as épocas. O que existia, e não deixou de existir, são museus ou casas que focalizam determinado escritor, como o Museu Casa de Jorge Amado, na Bahia, o Museu de Gilberto Freyre, em Pernambuco, o Museu Casa de Carlos Drummond de Andrade, em Minas Gerais, a Casa de Guilherme de Almeida, em São Paulo, e outros.

O museu abrange mais de cinquenta escritores brasileiros, entre poetas, romancistas, historiadores e ensaístas. Livros, fotos, textos, autógrafos e tudo que possa servir à história da literatura brasileira estão gratuitamente à disposição do público. Como se estivessem assistindo a uma aula de literatura, os visitantes empreendem um passeio literário pelas vitrines e painéis que focalizam escritores do Rio de Janeiro, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Raul Pompeia, Augusto Frederico Schmidt, Vinicius de Morais;  da Bahia, como Castro Alves, Jorge Amado, Junqueira Freire; de Minas Gerais, como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Pedro Nava; cearenses, como José de Alencar e Rachel de Queiroz; maranhenses, como Gonçalves Dias e Raimundo Correia; pernambucanos, como Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, e assim por diante.

De fato, vale uma visita ao museu, localizado nas proximidades da antiga estação ferroviária, bem no centro do modesto logradouro de Andrade Costa.

Convém lembrar que apesar da proximidade geográfica com Paraíba do Sul, Andrade Pinto e Andrade Costa são distritos ligados ao município de Vassouras.