Rocinha da Negra

Em terras do Município de Simão Pereira, vizinho da localidade de Matias Barbosa, encontram-se as ruínas da antiga Rocinha da Negra...

 27/11/2020     Historiador Sebastião Deister      Edição 321
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Em terras do Município de Simão Pereira, vizinho da localidade de Matias Barbosa, encontram-se as ruínas da antiga Rocinha da Negra, último lugar habitado antes de Paraibuna e que, segundo Daniel de Carvalho, em "Estudos e Depoimentos", incluía-se nas três sesmarias situadas no Caminho Novo que pertenceram a Tiradentes e que lhe foram sequestradas pelos governantes portugueses em consequência do processo da Inconfidência Mineira, passando mais tarde, por arrematação, ao Capitão Jerônimo da Silva Pereira e ao Sargento-Mor Manuel da Costa Maia, tendo sido mais tarde adquiridas por José Cerqueira Leite. Também o pesquisador Olívio de Albuquerque Castro afirma que "(...) Tiradentes ali descansava de suas viagens pelo Caminho Novo." E cita documento firmado por Joaquim José da Silva Xavier, hoje em exposição no Museu da Inconfidência de Ouro Preto, que menciona literalmente (em grafia de época):

 

"Despeza, que fez o Alf.res Joaq.m Jozé da S. X.er Com. e da Patrulha do Cam. O Novo e picadas de Meneses domum.Siam.to dos Sold. Os e Cavvalos de Sua Mag. E deCpai. E azeite e Sal para os cavallos de Sua Mag. E do quarto tremestre de Oitubro, Novembro, Dezembro do anno de 1781.

P) coatro Sentos e cincoenta e hum feixes de capim q. aSesti aos cavallos de Sua. Mag. E daminha montada e do Furriel da Patrulha e os Sold. Os destacados no porto do Meneses coimo consta do mapa encluzo apreSso de sento e cincoenta emporta 67$650 rs."

E ap;os apresentar novos qeusitos, Joaquim Jozé assinala, datando de

"Rosinha da Negra, o último de dezbro.0 de 1781."

 

Na transcrição, decidiu-se colocar entre parênteses algumas preposições ou definições para facilitar o entendimento do texto.

 

"Despesa, que fez o Alferes Joaquim José da Silva Xavier Comandante da Patrulha do Caminho Novo e (das) picadas de Meneses do município de Simão, e de todos os soldados (e) os cavalos de sua Magestade e de Campanha, e azeite e sal para os cavalos de sua Magestade. É do quarto trimestre de outubro, novembro (e) dezembro do ano de 1781.

Por quatrocentos e cinquenta e um feixes de capim que assiste aos cavalos de sua Magestade e da minha montada e do Furriel (posto correspondente a sargento) da Patrulha e os soldados destacados no porto do Meneses como consta do mapa incluso ao preço de cento e cinquenta importa 67$650 réis".

E após apresentar novos quesitos, Joaquim José assinala, datando de Rocinha da Negra, o último (dia) de dezembro de 1781."

 

Como se nota pelo documento de Tiradentes (observem a curiosa forma de escrever da época), era ele também o responsável direto pelo patrulhamento do Caminho Novo do Menezes, do qual fora o construtor e que atendia toda aquela zona de Minas, constituindo, por certo, uma estrada adventícia ao pioneiro Caminho Novo de Garcia Rodrigues Paes. Importante ainda lembrar que a área da Rocinha chegou a ser distrito de Juiz de Fora e que ostentou, também, as designações de Rancharia e São Pedro de Alcântara.

Tanto o lugar era importante e conhecido que ali foram sepultados dois eminentes representantes da nobreza mineira: o barão de Santa Mafalda e o barão de São João Nepomuceno.

Fazendeiro abastado e chefe do Partido Liberal em Juiz de Fora, José Maria de Cerqueira Vale, o barão de Santa Mafalda, nasceu por volta de 1819 e faleceu a 4 de janeiro de 1904. Construiu, com recursos próprios, o Palacete Santa Mafalda, também conhecido como Grupos Centrais, um belo edifício localizado em Juiz de Fora e logo oferecido a D. Pedro II. Com a recusa do Imperador, o prédio transformou-se então em um abrigo para doentes. Posteriormente, a Escola Normal da cidade foi transferida para o palacete, no qual ainda foi instalado o Primeiro Grupo Escolar no ano de 1907. A grande construção ficou conhecida como Grupos Centrais devido à sua localização, de frente para a Catedral Metropolitana de Juiz de Fora, em um trecho nobre da cidade do século XX. Hoje é parte integrante do Patrimônio Histórico de Juiz de Fora.

Já o jurista, cafeicultor, político e financista Pedro de Alcântara Cerqueira Leite nasceu em Barbacena em 28 de junho de 1807 e faleceu em 24 de abril de 1883. Deputado, desembargador e depois presidente da Província de Minas Gerais (entre 26 de setembro de 1864 e 18 de dezembro de 1865), recebeu o baronato por Decreto Imperial de 15 de julho de 1881. Uma de suas obras mais expressivas foi a criação da Estrada de Ferro União Mineira na cidade de Santana do Deserto.

São desconhecidas as razões pelas quais tais personagens tenham sido levados para sepultamento em um local tão distante de suas atividades. De qualquer maneira, sabe-se que naquele cemitério havia um grande número de jazigos que o tempo e os violadores encarregaram-se de arruinar.

Atualmente praticamente nada mais resta do histórico logradouro visitado por Tiradentes e outras personalidades da época. Em uma pequena elevação de terreno, a meio caminho entre Simão Pereira e o Registro de Paraibuna, e obliterado pela mata centenária, jazem apenas uma capela em ruínas e os resquícios de um cemitério.