Batizado na Fazenda Pau Grande
15/01/2021
Historiador Sebastião Deister
Edição 328
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Após cruzar todos os anos oitocentos na qualidade de
latifúndio elegante e produtivo (além de servir como referência a muitos
viajantes de então), a Fazenda Pau Grande teve como proprietários, na primeira
década do século XX, o coronel Lemgruber e sua esposa Ondina Lemgruber. Amigo
de Joaquim Ribeiro de Avelar (que seria indicado como primeiro prefeito oficial
de Vassouras em 1921) e do capitão Arthur de Toledo Dodsworth - filho do barão
de Javary -, o coronel Lemgruber promoveu na fazenda, no ano de 1903, uma
monumental festa para comemorar o batizado do seu filho Oswaldo Lemgruber. O evento
foi tão divulgado que o jornal Diário de
Vassouras sobre ele publicou o artigo seguinte (reproduzido com a grafia da
época):
"Na
Fazenda do Pau Grande, que Saint-Hilaire, em seu livro VIAGENS PELAS PROVÍNCIAS
DO BRASIL chamou a melhor existente em 1817, realizou o Coronel Lemgruber uma
pomposa festa, que se prolongou por espaço de quinze dias com a máxima
animação.
Constou a festa de várias partes, e entre ellas, de
dansas, pic-nics, fogos e etc.
Foram
feitos vários concursos de dansa, belleza, amabilidade e graça, etc., para
senhoras e cavalleiros, sendo premiadas, entre outras, as Exmas. Sras. DD Olga
Sampaio, Maria Christina, Aurea Peralta e Maria Velho, que obtiveram
riquíssimos mimos, taes como uma estatueta em bronze, denominada "L'Abandone",
um relógio e uma corrente de ouro, etc. etc.
Couberam prêmios também aos Srs. Alvaro de Mattos e
João Quirino. Foram dansados tres "cottilons", que foram marcados pelas Exmas.
Sras. DD Olga Sampaio e Edith Carvalho e pelos cavalleiros Pedro Guimarães,
Artur Toledo e Raul de Castro.
No
pic-nic realizado na fazenda de Monte Alegre, de propriedade do Coronel Joaquim
Ribeiro, tio do Sr. Lemgruber, foi este último alvo de significativas
manifestações de agradecimentos por parte dos convivas, servindo de intérpretes
desses sentimentos os Srs Bacharel Alberto Goulart e o Dr. Horacio de
Magalhães.
Muitos
senhores mais fizeram uso da palavra e, entre esses, o Coronel Lemgruber, que
agradeceu emocionado.
Durante
as noites foram queimados innumeros e vistosos fogos de artificio e soltados
grandes balões, sobressaindo um de cetim pintado, de 20 metros de altura, com o
retrato do amphytrião e levando 101 bombas de nitro-glycerina.
Enfim,
da amabilidade dos donos da fazenda, os Srs. Dr. Antonio Ribeiro, Coronel
Joaquim Ribeiro de Avelar, sua Exma. esposa D. Mariana de Avelar, Coronel
Lemgruber e senhora, como dever de gratidão consideram-se hoje todos os que
tiveram o supremo prazer de assistir à festa, eternos devedores.
O
"clou" da solenidade foi o batizado do innocente Oswaldo, filho do Sr.
Lemgruber, effectuado sabbado 18 na própria igreja da fazenda.
Entre
as muitas pessoas presentes foram notadas: as Exmas. Sras. DD Ondina Lemgruber,
Antonia de Carvalho Lemgruber, Emilia e Edith de Carvalho. Ainda, Laurinda e
Luiza Pinheiro, Aurea Peralta, Eugenia e Maria Velho, Felisberta, Maria Alice e
Marietta Campos, Olga Sampaio, Luiza e Eugenia Delphim, Maria Christina, Maria
Rocha, etc. etc., e os Srs. Dr. Franklin Toledo, Artur Toledo, Antonio
Carvalho, Artur e João Carvalho, Waldomiro Peralta, Goulart de Oliveira, Alvaro
de Mattos, José Sampaio, Augusto de Faria, Benjamim Bernardes, Ignacio
Valladares, Eugenio Ferraz, Alpheu Pinheiro, Antonio Rocha etc. etc."
Também o jornal O Município,
de 9 de maio de 1903, encarregou-se de noticiar a festa em Pau Grande, o que
prova o imenso prestígio de seus organizadores. Continuando a manter a
interessante ortografia do início do século XX, transcreveremos abaixo um
trecho da reportagem daquele jornal:
"(...)
no ultimo Domingo, após concurso de dansa e espirito, em que foram votantes as
senhoritas e votados os cavalleiros, devia proceder-se a eleição do Rei da
Festa e sua respectiva Corte.
O nosso
amigo Coronel Joaquim Ribeiro de Avelar, pedindo a palavra, propoz a
acclamação, sendo então delegado poderes para esse fim ao Presidente da Mesa
Eleitoral, nosso amigo Dr. Antonio Ribeiro que proclamou, debaixo de
prolongados applausos, as seguintes pessoas:
REI
- Capitão Artur de Toledo Dodsworth
RAINHA - D. Edith de Carvalho
PRINCIPE - Major Pedro Guimarães
PRINCESA - D. Marieta Campos
DUQUE - Tenente Alvaro de Mattos
MARQUEZ
- Dr. Franklin de Toledo Dodsworth
MARQUEZA
- D. Olga Sampaio
CONDE
- Tenente Antonio de Oliveira Rocha
CONDESSA - D. Sinhá Bernardes
VISCONDE
- Raul de Castro
VISCONDESSA - D. Eugenia da Silva Velho
BARÃO
- Artur Carvalho
BARONEZA
- D. Luiza Delphim
MESTRE DE CERIMÔNIAS - João Quirino da
Rocha Werneck
Feitos
os cumprimentos de estilo, dansaram os da Corte uma quadrilha real, habil e
espirituosamente marcada pelo Mestre de Cerimônias João Quirino. O Coronel
Lemgruber, acclamado também Marechal, fez photographar com as respectivas
coroas todas as pessoas acclamadas."
É relevante notar a presença, em tais festividades,
de figuras de realce de Paty do Alferes e da Vila da Estiva (hoje Miguel
Pereira), como Pequitota Bernardes (do Hotel Quindins), Franklin e Artur de
Toledo Dodsworth (filhos do Barão de Javary), João Quirino da Rocha Werneck (o
2º barão de Palmeiras), Áurea Peralta e Waldomiro Peralta (filhos do Dr.
Antônio Botelho Peralta, proprietário da Fazenda do Pantanal, na Estiva) e
membros da família do senhor Velho de Avelar, como Maria Velho e Eugênia da
Silva Velho, descendentes diretos dos pioneiros Ribeiro de Avelar.
O batizado de Oswaldo foi celebrado pelo padre
Leonardo Felippe Fortunato, o mesmo que, em 13 de junho de 1897, rezara a
primeira missa na Capela de Santo Antônio, na Vila da Estiva. O jornal também
assinalou que toda a comitiva, a convite do Sr. Artur de Toledo Dodsworth,
visitara, dias antes do batizado, sua fazenda em Javary "(...)
onde foi servido café e magníficos biscoutos (...) depois de percorrerem em
botes o magestoso açude que margeia a fazenda, regressarão todos no especial ao
Pau Grande, onde foi servido lauto jantar, findo o qual derão-se começo as
dansas, que prolongarão-se até as 2 horas da madrugada."
Como fecho de tantas notícias interessantes,
acreditamos ser importante lembrar que o especial, citado acima, refere-se ao
trem puxado pela Maria Fumaça, já que desde 1898 os comboios ferroviários
passavam regularmente pela região no trecho conhecido como Linha Auxiliar,
desembarcando seus passageiros na parada chamada General Zenóbio da Costa,
erguida praticamente defronte à fazenda Pau Grande.