Folias de Reis
Tal movimento folclórico, ligado aos vieses católicos (conhecido em Portugal como Reisada ou Reseiros), também é denominado Companhia de Reis
19/02/2021
Historiador Sebastião Deister
Edição 333
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Tal movimento folclórico,
ligado aos vieses católicos (conhecido em Portugal como Reisada ou Reseiros),
também é denominado Companhia de Reis, Reisado ou Festa de Santos Reis, sendo ainda classificado como uma festa
religiosa que lembra a Epifania do Senhor ou Teofonia, caracterizada pela Adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus, cujo significado
e simbolismo espiritual são, juntamente com a própria visitação dos magos, um
resumo do Evangelho e da fé cristã, embora existam outras especulações a respeito
do sentido das dádivas entregues por eles. Em geral, os grupos se formam com a meta de pagar uma
promessa, e o cortejo deve ser realizado por sete anos, sem interrupções. Caso
contrário, diz a crença, o folião recebe dos céus um castigo ou uma lição de
vida.
O período de
apresentação vai desde os festejos do Natal até o Dia de Reis - 6 de janeiro -,
reportando-se, em geral, à procissão de homens travestidos de mendigos ou
fantasiados com roupas espalhafatosas, cantando versos religiosos ou
humorísticos, com motivos sagrados da História de Cristo, os quais seguem de
porta em porta pedindo moedas. Segundo o folclorista Câmara Cascudo, no Brasil
a folia refere-se sempre aos ranchos, ternos ou grupos que festejam o Natal e relembram
os Reis, podendo ser apenas uma cantoria ou ainda possuir em enredo ou uma
série de pequeninos atos encadeados ou não pela mesma ideia de apresentação
festiva.
Nestes
festejos existem elementos musicais com a presença de vários instrumentos
(desde acordeões, violões, violas, cavaquinhos e reco-reco a caixas e pandeiros) com os quais os participantes da folia
visitam as casas de porta em porta com sua cantoria, lembrando a viagem dos
Reis Magos para levar ao Menino Jesus seus presentes de ouro, incenso
e mirra. Como
lembrado acima, esta manifestação revela a combinação de duas figuras da Teologia Católica: a Epifania (como sendo
a aparição ou manifestação divina, no caso a primeira manifestação de Jesus
Cristo entre os gentios) e a Hierofania (manifestação
do sagrado em objetos, formas naturais ou pessoas). Portanto, o reisado
aglutina elementos sagrados e profanos.
São elementos
fundamentais em uma Folia de Reis:
-
TRÊS REIS MAGOS: participantes que personificam os reis que visitaram o
Menino Jesus logo após seu nascimento: Baltasar (que ofereceu mirra); Belchior
(com a dádiva ouro) e Gaspar (com o presente incenso).
-
BASTIÕES (OU PALHAÇOS): geralmente três. Tais figuras têm o costume de se
chamar de irmãos, possuindo obrigações e proibições específicas (como jamais
dançar diante da Bandeira). Sua principal função é a proteção da Bandeira e a
solução do letreiro (que funciona como um enigma) feito pelo dono
da casa com folhas e flores, como as letras VSR (Viva Santos Reis); VNSA (Viva
Nossa Senhora Aparecida) e VJC (Viva Jesus Cristo). Os bastiões são
responsáveis pelas acrobacias do cortejo. Levando um bastão, vestem-se com
máscaras, e com o uso de um apito marcam a chegada e a partida da Bandeira. Durante
suas exibições, ele pedem que os espectadores atirem moedas ao chão para
homenageá-los. Saltando e brincando entre si, eles empurram as moedas com o
bastão para que outro palhaço as guarde nas sacolas de donativos.
-
CORO: é constituído geralmente por seis pessoas que são, ao mesmo tempo,
cantores e instrumentistas. Este quantitativo pode variar de região para
região.
-
MESTRE OU EMBAIXADOR: é o principal personagem da folia, ou ainda chefe da
folia, porque a ele cabe organizar a logística do grupo, o trajeto, os horários
e os instrumentos, responsabilizando-se, ainda por improvisar os versos
cantados junto às residências visitadas. Cabe aos mestres a importante função
de manter viva a tradição das folias e transmitir sua oralidade.
-
BANDEIREIRO OU ALFERES DA BANDEIRA: a ele é dada uma das mais importantes
funções da folia, ou seja, carregar a Bandeira do grupo de maneira respeitosa e
solene. O estandarte é apresentado ao chefe da residência por onde passa a
folia, garantindo, assim, com sua importante presença, os donativos oferecidos
pelas famílias.
Registre-se, também, que a Bandeira, chamada
"Doutrina",
é confeccionada, preferencialmente, com pano brilhante, sobre o qual se cola
uma estampa dos Três Reis Magos. A Doutrina busca representar diretamente o
Menino Jesus, constituindo, portanto, o elemento sagrado da companhia. Deve ser
beijada pelos moradores das casas visitadas. Esse respeito deve durar mesmo
passada a época de Reis. Na casa onde fica resguardada, há orações periódicas
diante dela.
FESTEIRO: Figura das mais importantes,
pois é na sua residência que os foliões fazem a "tirada
da bandeira"
e para onde é feito seu retorno ao final do "giro", isto é,
depois do cortejo no Dia dos Reis. Normalmente utiliza-se a casa do mestre ou
embaixador para a saída da bandeira e seu retorno. Todavia, em algumas regiões
a folia usa a casa de alguma pessoa que, por motivo de promessa, arca com as
despesas das apresentações.
Valença
Em Valença, existe atualmente a Associação Grupo
de Folia de Reis de Valença (AGFORV), criada em 2004 e, hoje, coordenando 27 entidades
com aproximadamente mil integrantes. A associação abrange localidades como São
Bento, Cambota, Biquinha, Porto dos Índios, Juparanã, Quirino, Santa Cruz,
Aparecida, Matadouro e Osório,
Paty do Alferes
Paty do Alferes possui
nove folias atuantes, algumas com mais de 20 anos e com cerca de 50
integrantes.
Vassouras
Treze
grupos pertencem à Associação de Folias de Reis de Vassouras, como Jardim
do Éden, Família Teixeira, Boas Novas de Belém e Viagem dos Três Reis. A
Associação é responsável pelo projeto Folia Mirim Pequenos Foliões, que é Ponto de Cultura e tem o objetivo de manter viva a tradição das folias.
Miguel Pereira
Por sua vez, Miguel
Pereira atualmente possui apenas uma folia em atividade sediada no bairro Praça
da Ponte.
Na próxima edição: Os Quilombos