A Família Pereira

Entre seus vários e importantes descendentes brasileiros ligados à nossa terra, encontra-se Miguel da Silva Pereira, patrono do nosso município

 02/04/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 339
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Em séculos passados, a família Pereira integrou a Casa da Torre de Garcia d'Ávila graças à varonia (filhos homens) de D. Leonor Pereira Marinho, casada com seu primo, o Capitão-mor José Pires de Carvalho e Albuquerque, Morgadio da Casa da Torre (termo vinculado à posse de um título de nobreza que era transmitido ao descendente mais velho de uma família). D. Leonor era avó do Visconde da Torre de Garcia d'Ávila, ou seja, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Coronel do Regimento de Milícias e da Marinha da Torre, primeiro titular do Império do Brasil. No dia 1º de dezembro de 1822, Antônio recebeu o título de Barão da Torre de Garcia D'Ávila, único título concedido no dia da coroação de D. Pedro I e durante quase dois anos o único título nobiliárquico brasileiro. Foi elevado a Visconde, com Grandeza, em 12 de outubro de 1828. Casou-se com sua sobrinha Anna Maria de São José e Aragão, filha de seu irmão, o Coronel de Linha Brigadeiro Graduado Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Visconde de Pirajá e de sua mulher Maria Luiza Queiroz de Teive e Argolo.

 

Em Portugal

 

Em Portugal, no ano de 1201, Dona Joana G. Canalle e D. Bernardo Gavião, cristão novo que adotou o sobrenome Pereira, geraram os filhos Ana Pereira Gavião (casada com D. Álvaro de Mello), Francisco Pereira Gavião (que se ordenou padre e seguiu para as Missões da Igreja Católica) e Dona Beatriz Pereira, que casou com D. Nuno Silva e teve as filhas Marta Gavião Pereira da Silva (que casou com D. Carlos Pereira) e Jacinta Gavião Pereira (que casou com D. Francisco Fontes Pereira de Melo) tendo com ele os filhos Bernardo Pereira de MelloDuarte Pereira de Mello e Ana Margarida Clementina Pereira Gavião. Por sua vez, Bernardo e Duarte participaram de missão diplomática junto à Santa Sé, e toda a sua descendência fixou-se no Reino de Roma. Já Ana Margarida casou com D. Nuno, gerando Antônio Pereira Gavião (bispo no Nordeste do Brasil em 1702) e Abel Pereira Gavião (que o acompanhou e lá constituiu família).

Importante lembrar que Pereira tornou-se um sobrenome de raízes ibéricas e toponímicas (isto é, de cunho geográfico) ligado às áreas das regiões portuguesas da  Quinta e do Couto, em cujas terras cultivava-se a pera, daí o gentílico escolhido. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o ramo primogênito dos Pereira criou a Casa dos Senhores e Condes da Feira, enquanto o segundo varão originou o Condestável D. Nuno Álvares Pereira (São Nuno de Santa Maria). Posteriormente, a estirpe Pereira uniu-se a diversas famílias europeias, espraiando-se assim pelo velho continente e, tempos depois, para as terras americanas e latinas. De fato, os Pereira, por volta dos séculos XIX e XX, ganharam grande notoriedade no nordeste, especialmente pelos seus famosos engenhos montados no Rio Grande do Norte, de onde partiram para a Paraíba e para outras províncias brasileiras. Ainda em Portugal, os membros do clã Pereira receberam os títulos de nobreza Barões da Gamboa e Condes da Feira.

Séculos atrás, era comum a perseguição aos judeus pela Igreja Católica através das barbáries cometidas pela Santa Inquisição, com destaque para o sanguinário monge Torquemada. A repressão foi tão violenta e assustadora em Portugal e em suas colônias, que muitas famílias mudaram de sobrenome e de profissão a fim de não serem perseguidos pela Santa Sé, rejeitando publicamente suas origens judias e convertendo-se ao catolicismo pela força e pelo medo, razão pela qual passaram a ser conhecidos como cristãos-novos. Para alguns, entretanto, a suposta origem nobre portuguesa ou espanhola lhes permitiu a garantia de sólidas e respeitáveis relações com a Coroa, ganhando terras e recebendo cargos de confiança. Muitos, entretanto, livraram-se da fogueira e da forca inquisitória, mas viram todos os seus bens confiscados, sendo exilados e degradados para fora de Portugal, com a maioria aportando no Brasil.

Um dos agraciados com as benesses do Reino foi Francisco Pereira Coutinho, que recebeu a capitania hereditária da Bahia de Todos os Santos em 1534. Lá, ele fundou a Vila Pereira e cultivou cana-de-açúcar, tabaco e algodão. Inicialmente, a relação entre o homem branco e os índios era bastante pacífica. Contudo, os conflitos começaram quando os colonos se recusaram a trabalhar (sob o rígido regime de escravidão) para os senhores da terra. Quando a situação com a tribo dos tupinambás se agravou e a vida de Pereira Coutinho mostrou-se em risco, ele fugiu para a Capitania de Porto Seguro. Contudo, ao voltar para sua vila na esperança de encontrar um clima mais tranquilo, foi mal recebido pelos nativos é acabou morto na Ilha de Itaparica em 1549. Por essa razão, seus familiares deixaram a Bahia e se deslocaram para o Sertão de Pernambuco, para Minas Gerais e para outras regiões do país.

 

Miguel da Silva Pereira

 

Entre seus vários e importantes descendentes brasileiros ligados à nossa terra, encontra-se Miguel da Silva Pereira, patrono do nosso município. Lembremos que o Dr. Miguel Pereira (nascido na Fazenda Campinho, em São José do Barreiro, São Paulo, em 2 de julho de 1871) veio para a Vila da Estiva em 1915, onde logo adquiriu um sítio que batizou com o nome da esposa, Maria Clara, que existe até hoje com sua neta, Maria Thereza Nicolau. Professor e catedrático da Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, deixou algumas obras escritas de grande valia para a ciência médica brasileira. Diagnosticado com um tumor de acústico (localizado no mediastino, espaço entre os pulmões), faleceu na cidade que adotaria seu nome em 23 de dezembro de 1918. Casado com D. Maria Clara Tolentino Pereira, gerou os filhos Maria Clara (Mancala), Maria Helena, Vera Lúcia, Lúcia Vera, Miguel Filho e Virgílio Mauro.   

Em Portugal, o genealogista Manuel de Souza e Silva cantou a excelência da linhagem Pereira nos seguintes versos:

 

Em o Couto de Palmeira,

Foi seu primeiro Solar

Depois Pereira se veio a mudar

Para a Quinta de Palmeira

Em ser mui do Ave a par

 

Brasão de Armas da Família Pereira

 

O Brasão de Armas dos Pereira é constituído de vermelho com uma cruz de prata em seu escudo, com flores nas extremidades. No TIMBRE (parte superior do escudo) existe o elmo representativo das origens militares da linhagem. Este é o brasão oficial relativo à família. Qualquer variação de suas características básicas remete-se a um brasão advindo de uma origem correlata a membros parentais, porém não inscrito no Armorial Lusitano dedicado à nobreza portuguesa.

 

Na próxima edição: Família Corrêa (Correia)