Significados dos títulos geográficos do município II
A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira
13/08/2021
Historiador Sebastião Deister
Edição 358
Compartilhe:
Arcádia - O logradouro
apareceu em meados do século XIX com a designação de Bom Fim (posteriormente
aglutinado para Bonfim) graças ao aparecimento das fazendas Bonfim e Monte
Ararat, ambas criadas por Wilhelm Ludwig Raban von Mentzingen (o barão de
Mentzingen), alemão que para ali se deslocara no intuito de administrar
plantações de café. A ferrovia valeu-se do termo para batizar a estação
inaugurada em 1898, mas posteriormente a titulação Bonfim acabou sendo substituída
por Arcádia, não se sabendo o motivo da troca e muito menos do seu autor. O
corpo do barão encontra-se sepultado no cemitério local.
Barreiros - Primeira
denominação alusiva ao povoado que iria se transmutar em Vila da Estiva e,
décadas depois, na cidade de Miguel Pereira. O termo, dado pelos viajantes que
circulavam constantemente entre as freguesias de Paty do Alferes e Vassouras,
referia-se aos grandes lodaçais que surgiam quando das chuvas mais intensas de
verão, cujas águas faziam transbordar o Córrego do Sacco, causando, assim,
dificuldades e prejuízo quando da travessia de homens e alimárias.
Conrado (antigo Sertão) -
Atualmente ostentando o título de 3º Distrito de Miguel Pereira, a Vila de
Sertão (antes pertencente ao município de Vassouras) teve seu nome permutado
para Conrado Niemeyer à época da inauguração da estação ferroviária local em 29
de março de 1898. Inicialmente, a denominação Conrado fora colocada onde hoje
se ergue Francisco Fragoso. Entretanto, com a mudança do engenheiro Conrado von
Niemeyer para Sertão, seguido da transferência do sino e da imagem de Nossa Senhora
de Santana da extinta igreja da Vila das Palmeiras do Alto da Serra para o
templo de Sertão, a Estrada de Ferro decidiu mudar as titulações até então
vigentes.
Estiva - Segundo nome
aposto a Miguel Pereira nos quartéis finais da centúria XIX pela Estrada de
Ferro, valendo-se, em especial, da presença da fazenda do mesmo nome
pertencente ao sesmeiro Antônio da Silva Machado (Machadinho), cujas terras
foram desaforadas para a construção da estação local. Por outro lado, lembre-se
que a palavra Estiva se referia a um grande tablado composto de troncos e
tábuas fortemente ligados entre si por cordas e cipós destinado a facilitar a
passagem das caravanas que cruzavam o povoado quando da formação de lamaçais
causados pelo Córrego do Sacco.
Francisco Fragoso (Antigo Conrado) - Nome de um dos engenheiros da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil
(depois Central do Brasil). A princípio, sua estação fora batizada com a
designação de Conrado von Niemeyer, título este transferido pra a Vila de
Sertão. A parada ferroviária local não mais existe, uma vez que foi demolida em
2002 para dar lugar à Estação de Recalque da CEDAE.
Governador Portela - 2º Distrito de Miguel Pereira. A denominação refere-se ao Dr.
Francisco Portela, primeiro governador do estado após a Proclamação da
República e um dos grandes incentivadores de implantação da Linha Auxiliar da
Estrada de Ferro criada por Paulo de Frontin. Nascido em Oeiras (Piauí),
Francisco formou-se em Medicina em Campos dos Goytacases, logo se transferindo
para o Rio de Janeiro, cidade em que exerceu diversos e importantes cargos
políticos junto à República.
Marcos da Costa - Pioneira fazenda nascida aos pés da Serra das Perobas e às margens do
Caminho Novo de Minas aberto pelo bandeirante Garcia Rodrigues Paes. A
propriedade surgiu graças à iniciativa do Almoxarife Real Marcos da Costa
Fonseca Castelo Branco. Suas instalações serviam como ponto de descanso e
pernoite para as caravanas que seguiam diuturnamente entre o Rio de Janeiro e
as terras mineiras. No local, hoje, resta tão-somente parte de seus alicerces.
Miguel Pereira - Como o próprio nome indica, o 1º Distrito Municipal homenageia o
médico e professor paulista nascido em São José do Barreiro em 2 de julho de
1871 e falecido na Estiva em 23 de dezembro de 1918.
Paes Leme - A pequena
parada ferroviária levantada pouco além de Conrado foi uma homenagem da
ferrovia à família de Pedro Dias Paes Leme, o Marquês de São João Marcos, dono
da Fazenda Belém (hoje Japeri). Na realidade, era simplesmente uma parada
destinada a atender moradores e pecuaristas de parte da baixada que se alonga
entre Japeri e Conrado.
Sacco - Nome centenário
dado ao ribeirão que, nascendo junto ao Lago de Javary, cruza Miguel Pereira e
Paty do Alferes para desaguar no Ribeirão Ubá, nas proximidades de Paraíba do
Sul. Geograficamente, a designação sacco
já era
amplamente utilizada pelos primeiros habitantes do lugar. Acredita-se que os Werneck (vindos de Vera Cruz) tenham-se
valido de um costume vindo de Minas e Goiás, visto que lá era comum chamar-se "sacco" qualquer extensão de planície
que possuísse matas virgens circundadas por um arco de círculo descrito por um
rio qualquer. Como eles haviam chegado de Barbacena e se instalado ao lado de
curvas do rio Santana, acredita-se que o termo Sacco foi lançado por Manuel de
Azevedo Ramos a partir de 1789 para qualificar o ribeirão e sua ampla sesmaria no
alto da Serra do Couto.
Vera Cruz - Logradouro
nascido na bacia do Rio Santana diretamente ligado à presença da pioneira
Fazenda de Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz construída pela família
Werneck em 1770. Embora modesto em suas dimensões, Vera Cruz abriga uma significativa
parte da história de Miguel Pereira, pois ele serviu de embrião para a formação
de muitas glebas, sítios e fazendas no alto da Serra do Couto.
Na próxima edição: Os
primórdios do Município