Postos de Saúde, o Hospital da Fundação Miguel Pereira e a Casa de Saúde e Maternidade Santa Therezinha
Capítulo 29. A Trajetória Histórica do município de Miguel Pereira
25/02/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 386
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Nos anos
cinquenta, todas as circunstâncias de saúde do município apontavam para uma
única saída: construir postos de atendimento e um hospital público que
absorvesse o corpo médico da cidade e solucionasse os problemas de várias
moléstias não apenas de Miguel Pereira e Portela, mas de toda a área inserida
no trecho Japeri - Avelar. É importante recordar que, em Portela, já haviam
ocorrido alguns movimentos particulares e sindicais voltados para a melhoria
dos trabalhos de saúde na região serrana.
Muitos
anos antes de nascer o projeto de fundação de um hospital no município, uma
plêiade de operários idealistas fundara um Posto de Assistência Médica ao lado
da estação ferroviária de Portela, dando assim partida ao atendimento regular
dos ferroviários e de seus familiares. Tal unidade tornou-se o embrião do Posto
da Caixa dos Ferroviários (IAPFESP - Instituto de Aposentados e Pensões dos
Funcionários Estaduais e Servidores Públicos), que posteriormente seria
transferido para a rua Comandante Paulo Emílio, onde ocuparia o prédio de
propriedade de Antônio de Oliveira Valente, transformando-se depois no Posto do
INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Ali trabalharam, por muito
tempo, os doutores João Plínio Werneck dos Santos, Pedro Saullo e Heitor Gouvêa
Lima, além do estimado enfermeiro Jorge Mendes. A sala original, ao lado da
estação ferroviária, ficou sendo um Posto Especial de Perícias Médicas e de
Acidentes de Trabalho, vindo nele a trabalhar o Dr. Oscar Setúbal Ritter, o Dr.
Eugênio Albino dos Santos e, em épocas mais recentes, o Dr. Alcione dos Santos.
Por força de uma Lei Federal, o antigo Posto do IAPFESP foi transformado em
INPS e logo depois em INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social), logo removido para a rua Dr. Osório de Almeida, em ponto
mais central de Portela, ali ocupando as antigas instalações do Cine Império. Em
1959, inaugurava-se o Posto de Puericultura de Governador Portela, à rua Dona
Carlota, cujas chaves foram entregues pelo presidente Juscelino Kubistchek ao
vereador Francisco Bernardes e ao prefeito "Zé Nabo" no Palácio do Catete, no
Rio de Janeiro (V. IMAGEM).
Em 27 de
novembro de 1957, o pároco de Miguel Pereira, Frei Estêvão Baxmann, cedeu a
Casa de Caridade situada na rua Luiz Pamplona para o Dr. Manoel Vieira Muniz instalar
o Sub-Posto de Saúde de Miguel Pereira, iniciativa causadora de acerba polêmica
política na época. Segundo o próprio Dr. Muniz, em seu livro "Subsídios à História
de Miguel Pereira", esta unidade foi instalada "no peito e na raça", pois o prefeito da época (Frederico Wängler)
mostrou-se contra sua criação. Todavia, com o apoio da população, ele passou a
funcionar, iniciando-se seus trabalhos com o atendimento de 27 pessoas carentes
de recursos. O posto funcionou na Casa de Caridade (prédio hoje desaparecido)
até a eleição de José Antônio da Silva, o "Zé Nabo", o segundo prefeito de
Miguel Pereira. Este firmou então um convênio com o Governo do Estado e realocou
as atividades do posto no Ambulatório Joanna D'Arc até que se viabilizasse sua
remoção definitiva para as instalações do Posto de Saúde do bairro Pantrezina a
serem concluídas.
Posteriormente,
criou-se a Fundação Miguel Pereira, responsável pelo hospital, por muitos anos
presidida por Francisco Badenes e Paulo Beaujean. Pouco tempo depois, inaugurou-se,
em 22 de julho de 1967, a Casa de Saúde e Maternidade Santa Therezinha
planejada e dirigida pelo Dr. Marcus Calmon Du Pin e Almeida, à rua Ilka, 16,
no bairro Vila Margarida. Tal entidade vinha prestar um inexcedível apoio às
atividades médicas e laboratoriais do Hospital da Fundação, com ele compartilhando
muitas das emergências do município. Moderna, bem organizada e dispondo de um
razoável número de leitos em apartamentos confortáveis e enfermarias espaçosas,
a casa de Saúde acolhia também em seus quadros profissionais diversos miguelenses recém-formados em Medicina, muitos dos quais
filhos dos antigos médicos e farmacêuticos que haviam participado do
crescimento da antiga Miguel Pereira, como Ricardo Manoel e Carmem Suzana
(filhos do Dr. Muniz), César Francisco e Carlos (filhos do dentista "Zezé"
Ferreira Gomes) e Ricardo Calmon (sobrinho do Dr. Calmon).
Gerindo o
estabelecimento ao lado de outros amigos e colegas de profissão, entre eles o
onipresente Dr. Muniz, aos poucos o Dr. Calmon foi equipando todas as
dependências da Casa de Saúde com ótimas aparelhagens médicas, além de
laboratórios especializados, salas de cirurgia e de radiologia. Já em 18 de
dezembro de 1975 inauguravam-se novas ampliações na instituição, nelas se
destacando um anexo destinado a abrigar todos os serviços de Raios-X. Com tais
obras, também novos quartos e enfermarias puderam ser oferecidos à população,
fazendo com que a Casa de Saúde disponibilizasse uma imensa área de serviços
técnicos.
Em seus
anos de grandeza, a Casa de Saúde relacionou, em seus quadros médicos, profissionais
de peso na cidade, destacando-se ali a Dra. Noema Batista e os doutores
Fernando Pontes Moreira, Élcio Portela, Wagner Portela Arbex, Carlos Ferreira
Gomes, João Franklin, Sérgio Gomes Duboc, José Orloff Rodrigues Monteiro, Rui
Carvalho e Paulo Gedeon.
Problemas
técnicos e financeiros, além de algumas administrações equivocadas e danosas
que por lá passaram nos últimos anos - especialmente depois da saída do Dr.
Muniz e do Dr. Calmon de sua direção médica -, levaram a Casa de Saúde a entrar
num crônico problema de insolvência administrativa e econômica. Apesar dos
esforços despendidos por médicos e amigos, infelizmente o estabelecimento foi
perdendo clientes, credibilidade e convênios com outras unidades de saúde
estaduais e federais, e assim seus serviços acabaram sendo paralisados,
caminhando aquela instituição modelar em direção a uma inelutável falência. Com
o agravamento da situação econômico-financeira do país, a Casa de Saúde foi
descredenciada tanto pelo SUS quanto pela Secretaria Municipal de Saúde da
Prefeitura de Miguel Pereira, o que determinou o seu irremediável fechamento.
Na próxima edição: As atividades
de ensino em Miguel Pereira - Os Primórdios