O Ginásio Professor Miguel Couto
Capítulo 34. A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira
25/03/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 390
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A
despeito de todos os progressos alcançados pelo Grupo Escolar Dr. Antônio
Fernandes, já em 1957 era necessário criar na cidade um ginásio que absorvesse
os alunos que completavam o Curso Primário. Havia, a bem da verdade, um Curso
de Admissão em Portela e um ótimo colégio em pleno funcionamento em Arcozelo (O
Ginásio Barão de Paty do Alferes, do Capitão Zenóbio da Costa), mas em vista
dos precários meios de transporte da época, podemos hoje avaliar quão era
complicado um estudante deslocar-se de Miguel Pereira para Portela ou Paty por
trens, cujos horários não coincidiam com os horários das escolas, ou em ônibus
que, pelas estradas de terra por vezes enlameadas, levavam quase uma hora para
cobrir um percurso de quatro ou cinco quilômetros. Entrementes, havia em todo o
Brasil, nos idos de 1950, um extraordinário movimento didático voltado para a
criação de colégios e ginásios. Este movimento estava adstrito à chamada
Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG) capitaneada pelo seu mentor,
o professor Felipe Tiago Gomes. Os ecos de tal trabalho inédito chegaram também
a Portela e Miguel Pereira, sendo logo abraçados pelos professores e educadores
do nosso jovem Município.
Se em
Portela os beneméritos Adalmar Corrêa da Silva e Alcebíades Laudelino Balthar
de pronto engajaram-se à Campanha, em Miguel Pereira alguns personagens de peso
na área do ensino seriam compelidos a trabalhar pela criação de uma unidade
local. Assim, começaram a surgir na cidade os respeitáveis nomes de Oliveiros
de Castro Martins, Darcy Jacob de Mattos, Cornélio José Fernandes Neto, Maria
da Conceição Machado de Carvalho, Nely Maria Jorge Fidélis, George Jacob Abdue
e, em especialíssimo plano, Mário Vasconcelos Lopes Rêgo a lutar junto à
Campanha Nacional e ao próprio povo miguelense para a criação de um ginásio
próprio e definitivo em nossa terra. O trabalho de persuasão dessas figuras
notáveis, secundado pela indefectível presença da professora Jandira Telles
Leme Pragana e coadjuvado por dezenas de dinâmicas famílias miguelenses, rendeu
frutos quase imediatos, pois no princípio de 1957 instalava-se em Miguel
Pereira o Curso de Admissão ao Ginásio, ministrado em anexo ao grupo escolar,
no casarão da Rede Ferroviária, e no qual lecionaram, a princípio, Mário Lopes
Rêgo, Conceição Machado e Darcy Jacob de Mattos. Com a transferência do Grupo
Escolar Dr. Antônio Fernandes para sua sede própria, também o ginásio - já então
denominado Miguel Couto Filho em 1958 - para lá também se transladou com a sua
primeira turma de estudantes. Com o advento do Ginásio Miguel Couto Filho em
Miguel Pereira, via-se a Linha Auxiliar finalmente coberta por educandários do
chamado nível ginasial, hoje englobado dentro do ensino fundamental de 5ª a 8ª
série: o Ginásio Governador Portela, o Ginásio Barão de Paty do Alferes e ainda
o Ginásio José Eulálio de Andrade, em Avelar, todos ligados à Campanha Nacional
de Educandários Gratuitos, hoje genericamente denominados Colégios Cenecistas.
Mário
Lopes Rêgo reuniu em torno de seu ambicioso projeto didático o que havia de
melhor em matéria de corpo docente em Miguel Pereira: Jandira Telles Leme
Pragana, Maria da Conceição Machado, George Jacob Abdue, Darcy Jacob de Mattos,
Sebastião de Freitas, Lia Figueira, Charles Gepp, Malita Nunes, Sieglinda
Heindenfelder, Estêvão de Santana
Monsores, Nelsino Jorge do Valle, Alcebíades Laudelino Balthar e
Cornélio José Fernandes Neto foram alguns dos professores por ele convocados
para dar partida à vida do Ginásio Professor Miguel Couto.
Na
realidade, essa escola sobreviveu durante vários anos sem maiores atropelos em
função dos memoráveis trabalhos desenvolvidos por praticamente três pessoas:
Oliveiros de Castro Martins - um respeitado contabilista da cidade, que
desempenhava o cargo de Presidente do Setor da Campanha em Miguel Pereira -,
Mário Lopes Rêgo - como Diretor do Ginásio - e Malita Nunes - como Secretária
Executiva. Apesar de todas as dificuldades normais de um curso como aquele -
tão inédito e pioneiro na região - e que funcionava em salas cedidas pelo Grupo
Escolar Dr. Antônio Fernandes, na parte da noite - já em 1961 formava-se sua
primeira turma, composta pelos seguintes estudantes: Alzira Leal Telles; Arlete
Duarte dos Santos; Boaventura Vieira Muniz; Eunice Goulart da Fonseca; Filipe
Domith; José Antônio Moreira; José Basileu Ribeiro Filho; Jorge de Figueiredo
Pinheiro; Maria Anunciação da Silva; Maria de Lourdes da Fraga Vieira; Maria Theresa
Perez Filippi; Sebastião Deister; Sérgio Moreira da Silva; Suely da Silva
Freitas; Vanda de Oliveira Pereira e Wanda de Figueiredo Pinheiro.
Outros
estudantes também participaram dessa primeira turma, mas alguns se transferiram
para outras cidades ao longo de curso ou viram-se obrigados a cumprir
repetência em uma de suas séries. Contudo, achamos justo relacionar seus nomes,
já que eles fizeram parte do Curso de Admissão implantado na cidade em 1957 e
do qual nasceria o Ginásio: Armando Justino Moreira; Carlos Alberto de Ávila
Pinto; César Augusto do Valle; Hermélio da Silva Goulart; Jorge Carlos Leal
Alexandre; Luiz Carlos Sampaio Martins; Lúcia Regina de Souza e Silva; Mauro
Ferreira Telles; Maurício Joaquim da Rosa; Olívia de Batalha Sant´Anna; Olacy
Fonseca Moreira; Fernando Pontes Moreira; Mário Paulo Barile; Leny Teixeira;
Emília Ferreira Fraga; Marialva Calazans e Walter de Almeida Nogueira.
Durante
anos, o Ginásio Miguel Couto foi o símbolo máximo de qualidade e disciplina nos
meios estudantis da serra. Entretanto, Miguel Pereira já reclamava por um curso
de 2º Grau que permitisse a seus estudantes arriscar uma vaga nas faculdades do
Estado. Por conseguinte, algum tempo após a criação do ginásio e através de
campanhas levadas a efeito por Cornélio e Mário junto ao Ministério da
Educação, surgia na cidade o Colégio Comercial Professor Miguel Pereira,
destinado a formar Técnicos em Contabilidade e ainda oferecer um Curso de
Formação Geral (anteriormente conhecido como Curso Científico), cujo currículo
voltava-se mais para a preparação de estudantes desejosos de prestar um
vestibular. Com o professor Mário dirigindo o ginásio e o professor Cornélio na
direção do curso comercial, a Campanha Nacional em Miguel Pereira ganhou ainda
mais força, prestígio e alunos. Tendo em vista tal crescimento, logo surgiu a
necessidade de se construir em Miguel Pereira um prédio próprio para a CNEC,
até porque com a expansão do Colégio Dr. Antônio Fernandes não havia mais
espaços suficientes em suas dependências para tantos cursos e tantas turmas. A
partir dessa constatação, instalou-se na cidade um movimento destinado à
arrecadação de fundos para a construção da sede da CNEC, ou seja, um prédio
para o ginásio e para o curso comercial, entidades autônomas que de pronto
foram fundidas em um estabelecimento único chamado Colégio Cenecista Professor
Miguel Pereira, hoje desativado. Suas dependências agora estão ocupadas pela
Escola Municipal Professora Maria da Conceição Machado.
Foto: Desfile escolar
Na próxima edição:
Escolas e Mestres em Governador Portela