A Escola Profissional Carvalho de Souza (Senai)
Capítulo 38. A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira
29/04/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 395
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Nos anos
quarenta da centúria passada, novas necessidades de ensino começavam a ganhar
corpo em Portela e Miguel Pereira. As séries regulares dos então chamados
Cursos Primários não se mostravam mais suficientemente capacitados a atender a
multiplicação de alunos e à constante demanda de mão-de-obra especializada que
o crescimento das cidades impunha, e em pouco tempo a ferrovia descobriu-se
muito carente de funcionários e técnicos que pudessem exercer alguns serviços
fundamentais ao longo da movimentada Linha Auxiliar.
Com efeito, a Estrada de Ferro, tão onipresente na
Serra e desfrutando do apogeu de suas atividades entre Belém, hoje Japeri, e
Porto Novo do Cunha, em Além Paraíba - MG, dependia enormemente de
mecânicos, serralheiros, carpinteiros, funileiros, eletricistas, pintores,
bombeiros hidráulicos, torneiros, metalúrgicos e agentes administrativos, ou
seja, toda uma plêiade de profissionais altamente treinados que um ensino regular
primário jamais poderia oferecer.
Transladar
tantos funcionários de outros centros de formação mais avançados para a Portela
corresponderia a despesas notáveis para a direção da ferrovia, pois ainda seria
necessário providenciar alojamentos adequados para todos, casas para suas
famílias e principalmente salários compatíveis com as transferências em
questão. Urgia, pois, instalar em nossa terra um centro de formação
profissional que, em tempo relativamente curto, formasse trabalhadores
capacitados para as áreas mais carentes da Linha Auxiliar. Por si só, tal
iniciativa carrearia outros benefícios para a ferrovia e para a própria vila
onde viesse ser instalada a escola: criar-se-iam vagas para professores, novos
monitores de turmas, chefes de disciplina, secretários, escriturários e
supervisores de mão-de-obra, além da rara oportunidade de portelenses e
miguelenses disporem de um curso de nível profissionalizante que lhes
garantiria um emprego na própria estrada de ferro após sua formatura.
O Centro
de Formação Profissional
Essa
feliz ideia foi consubstanciada em 24 de outubro de 1942, quando então
fundou-se em Governador Portela o Centro de Formação Profissional com o nome de
Escola Profissional Carvalho de Souza, décadas depois transformada em Senai.
Quase
todas as classes sociais da serra fizeram-se representar naquele ato tão
importante para Portela, destacando-se o Sr. Hugo Corrêa Bernardes, enviado
especial de Edmundo Peralta Bernardes (então prefeito de Vassouras); a
professora Conceição da Costa Pinto, diretora do Grupo Escolar Dr. Álvaro Alvim,
e dezenas de professores, alunos, pais e ferroviários acompanhados de seus
familiares.
Como
lídimos representantes da Estrada de Ferro, falaram durante aquela alegre e
concorrida festa o engenheiro José Moacir de Andrade Sobrinho (Chefe de Ensino
e Seleção enviado pelo Major Alencastro Guimarães), o engenheiro Umbelino
Pereira Martins (Inspetor de Ensino Profissional e representante do engenheiro
Celso Suckow da Fonseca), o engenheiro Luiz Rodrigues de Carvalho (Chefe do
Depósito da Ferrovia e representante do Dr. Lauro de Miranda, Chefe da Divisão
da Linha Auxiliar), o engenheiro Tito Martins Costa (representando o Chefe do
Serviço de Reflorestamento da Estrada de Ferro) e o senhor Afonso Pragana
(representante do Chefe do Departamento de Material da Estrada de Ferro),
marido da professora Jandira Telles Leme Pragana.
Para
abrilhantar as festividades e mostrar ao povo serrano a importâncias das
escolas profissionais, a direção da ferrovia trouxe a Portela, para aquela
ocasião especial, grupos representativos das escolas mantidas em Engenho de
Dentro e Três Rios, compostos por um apreciável número de professores, alunos e
monitores de turmas. A exibição de tais contingentes não apenas comprovava o
acerto da decisão de se implantar em Portela uma Escola Profissionalizante como
ainda vinha estimular os jovens da Serra a também seguir uma promissora
carreira em uma área eminentemente técnica.
Após a
execução do Hino Nacional e da palavra emocionada do Dr. José Moacir de Andrade
dando como inaugurada aquela unidade escolar, empossava-se então o seu primeiro
Diretor, o engenheiro Luiz de Carvalho. A Escola viu-se aberta com uma turma de
15 alunos, dos quais, ao final do curso, seis diplomar-se-iam no chamado Curso
Rápido e sete seriam habilitados pelo Curso Normal de Formação Profissional.
Ao longo
dos anos, o Centro de Formação Profissional foi melhorando suas instalações e
aprimorando sua área didática. Uma elogiável equipe de professores - alguns dos
quais formados na própria escola - sempre foi o fator preponderante da
qualidade de ensino no local, formando todos os anos turmas de técnicos muito
gabaritados nas áreas de eletricidade básica, eletricista de manutenção
ferroviária, mecânica de locomotivas, marcenaria e metalurgia, tornearia e
assistência administrativa, além, naturalmente, do ensino regular em campos do
conhecimento geral.
Ao longo
de aproximadamente cinquenta anos de existência, a Escola Profissional Carvalho
de Souza viu passar por suas salas e oficinas quase uma centena de professores
e instrutores de altíssima qualificação, e entre tais nomes não podemos
esquecer Darcy Jacob de Mattos, Adir Alves de Moraes, Alcebíades Balthar,
Abílio Alves dos Santos, Darcy Trajano, Ernâni Costa Bento, Estêvão Santana
Monsores, Fernando J. F. Lemos, Fernando Marques Duarte, Hélio Ferreira
Zóffoli, Perácio Pimentel, Virgílio J. P. Filho, Nelsino Jorge da R. Valle,
Sebastião de Freitas, José Gomes e Pedro Alves de Cristo.
Entre os
anos oitenta e noventa, destacaram-se no campo administrativo e pedagógico da
escola os trabalhos de diretores atenciosos e dedicados que levaram ao então chamado
SENAI novas ideias e projetos. Entre eles, precisamos lembrar a atuação das
professoras Iara Calile Horácio e Káthia Barroso, que apesar dos entraves
burocráticos e das dificuldades financeiras impostas pela pré-falência da
ferrovia em nossa terra, conseguiram recompor a famosa fanfarra da escola e
formar ainda turmas femininas em Portela, uma novidade muito bem-vinda em seu
Centro de Formação Profissional.
Séria em
sua proposta de trabalho, responsável na disciplina transmitida aos alunos,
consciente de sua cidadania, a Escola Profissional Carvalho de Souza conseguiu,
no decurso de meio século, colocar nos quadros da Rede Ferroviária centenas de
alunos extremamente capacitados e logrou ainda fornecer trabalhadores de alto
nível técnico para outras grandes empresas do país, como a Companhia
Siderúrgica Nacional, a Santa Matilde, a Thyssen Fundações S/A, a Light, a
Telerj, os Estaleiros Verolme e a Ishikawagima, a Phillips, a Petrobras, as
Furnas Centrais Elétricas, a General Electric e várias outras.
Hoje o
antigo Centro de Formação Profissional é um Polo de Ensino sob a administração
da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Miguel Pereira, já que,
com a desativação da ferrovia, também aquela escola se viu abandonada por
vários anos.
Na próxima edição: Trajetória
Política e Social do Município