Dr. Oswaldo de Araújo Lima

Dr. Oswaldo possuía ascendência nobre, pois era bisneto do Marquês de Olinda (Pedro de Araújo Lima), Regente do Império quando da abdicação de D. Pedro I.

 20/05/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 86
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Oswaldo de Araújo Lima nasceu no Rio de Janeiro em 22 de novembro de 1891, tendo como pais o funcionário do Instituto Manguinhos e também farmacêutico Luiz Antônio de Araújo Lima e a senhora Argentina Lopes da Costa de Araújo Lima. Possuía ascendência nobre, pois era bisneto do Marquês de Olinda (Pedro de Araújo Lima), Regente do Império quando da abdicação de D. Pedro I. Talvez estimulado pelos trabalhos profissionais do pai, cedo demonstrou interesse pelas coisas ligadas às atividades médicas, razão pela qual ainda bem jovem ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro ligada à Santa Casa da Misericórdia, ali se doutorando em 1917 aos 26 anos, tendo como professor ninguém mais do que o famoso Oswaldo Cruz.

Ainda adolescente, entre os anos de 1902 e 1906 acompanhou as intervenções desencadeadas pelo prefeito Pereira Passos no centro do Rio de Janeiro, onde grassavam epidemias violentas de cólera-morbo, varíola e febre amarela em meio ao amontoado de casas humildes e favelizações desprovidas de saneamento e higiene básica, pelas quais circulavam livremente miríades de insetos vorazes e roedores quase invencíveis. Foi testemunha também dos trabalhos de vacinação impostos pelo ex-mestre Oswaldo Cruz em sua incansável cruzada de imunização da população carioca, ação médica fundamental que levaria Oswaldo, após sua diplomação, a dedicar-se com afinco aos serviços de pesquisa e tratamento no campo específico de Saúde Pública Preventiva, decisão que o levou a se tornar um médico sanitarista por excelência, além de trabalhar com esmero nos campos da cirurgia, da ginecologia e da clínica geral.

Iniciou sua vida profissional como médico da Estrada de Ferro em Belo Horizonte, transferindo-se tempos depois para Juiz de Fora, de onde partiu em definitivo para Vassouras. Nesta cidade tornou-se funcionário público, trabalhando, naturalmente, na área médica, mas acabou transferindo-se para Portela em 12 de outubro de 1923 para assumir a chefia do Posto Médico da Estrada de Ferro Central do Brasil. Embora estivesse radicado em Vassouras (cidade em que exercia o cargo de Diretor de Saúde e Higiene Sanitarista por indicação do então prefeito Maurício de Lacerda), Dr. Oswaldo sempre voltava seus olhos para a área de Miguel Pereira, oferecendo seus serviços médicos através de clínicas em Paes Leme, Conrado, Fragoso e Arcádia. Foi o primeiro médico a clinicar em Miguel Pereira graças a um modesto consultório montado junto ao antigo casario da atual rua Maria José, convivendo assim com o farmacêutico Bonifácio Portela e depois com outros médicos locais, entre eles João Plínio Werneck, Virgílio Mauro Miguel Pereira, Arthur Adolpho Wangler, Heitor Gouvêa Lima e Radamés Marzullo. Também simpático às causas políticas conseguiu eleger-se vereador em Vassouras para a gestão 1947/1950, exercendo as funções de secretário daquela casa legislativa nos anos de 1949 e 1950, quando era prefeito o senhor José Bento Martins Barbosa (o Bentinho).

É preciso lembrar que foi Oswaldo de Araújo Lima quem detectou, em 1938, a irrupção de peste bubônica em Miguel Pereira, moléstia que ceifou a vida de cinco jovens que trabalhavam no armazém de Calmério Rodrigues Ferreira, o Juju. Diante da gravidade do problema, e ciente da falta de recursos da cidade, Oswaldo e colegas de pronto solicitaram ajuda ao Rio de Janeiro, de onde uma equipe médica comandada pelo Dr. Mário Pinotti (chefe da Saúde Pública do Estado) veio a Miguel Pereira para combater o mal. Partiram do Dr. Oswaldo as providências sanitárias preliminares frente à seriedade da doença. Rapidamente isolou casas comerciais e residências próximas do foco, segregou praticamente à força os doentes de seus familiares, determinou que os trens não fizessem paradas na estação local e que ninguém circulasse pela rua Maria José, a não ser em caso estritamente necessário. Com inseticidas, máscaras improvisadas e lavagens constantes de calçadas e outros espaços com creolina e demais desinfetantes disponíveis, suas equipes expurgaram ao máximo a área do foco, assim facilitando as providências posteriormente tomadas pela equipe enviada do Rio de Janeiro, entre elas a vacinação da população miguelense. Apesar das cinco mortes causadas pela peste, felizmente o surto foi contido, mas por algum tempo o medo e a desconfiança dos moradores permaneceram latentes em Miguel Pereira. Foi ele ainda quem eliminou várias ocorrências de malária na baixada de Japeri e Paracambi. Muitas vezes, Oswaldo buscava na Secretaria de Saúde de Niterói pacotes de quinino para que a esposa Isaura e os filhos Iza e Paulo produzissem as cápsulas com o medicamento para distribuição gratuita aos contagiados pela doença.

Oswaldo casou-se com Isaura de Lima Barros, nascida na cidade gaúcha de Rio Grande em 17 de janeiro de 1894, com ela gerando os filhos Iza, Paulo (apelidado Paulinho Aviador), Maria Mercês, Osvaldo Luís, Argentina Mercês e Luiz Paulo.

Faleceu em 2 de agosto de 1977, aos 86 anos. Por iniciativa do vereador Alvanyr de Lima Ferreira através de um projeto de lei de 26 de setembro de 1977, seu nome hoje batiza a conhecida praça que abriga a Escola do SENAC, inaugurada pelo prefeito Manoel Guilherme Barbosa em 7 de novembro de 1982 no centro de Miguel Pereira, ao lado da antiga Igreja de Santo Antônio (hoje Centro Municipal de Cultura).

 

Na próxima edição: Abraham Medina