Centenário de nascimento do prefeito Manoel Guilherme Barbosa (Nelzinho)

Em 1940, ao completar 16 anos, seguiu para Miguel Pereira, passando a trabalhar como auxiliar de balcão na loja de Michel Farah (a famosa Loja Santa Therezinha), de onde se transferiu quatro anos depois para a Casa Aurora, de Antero Nogueira

 07/10/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 418
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Nelzinho nasceu em 7 de junho de 1922 no logradouro de Pirauí, 4º Distrito de Vassouras, sendo filho de Polycarpo Machado Barbosa (Lique) e Cecília Rodrigues Barbosa, casal que se mudara para a emergente Miguel Pereira lá pelos anos trinta do século XX. O garoto fez seus estudos iniciais nas escolas da Cachoeira e do Horizonte, ao lado dos irmãos Consuelo e Sandra (hoje morando em Miguel Pereira com suas respectivas famílias, e Noel, residindo em Teresópolis). Com apenas 6 anos já trabalhava como campeiro no Sítio do Cataguazinho, nas proximidades da Vargem do Manejo.

Em 1940, ao completar 16 anos, seguiu para Miguel Pereira, passando a trabalhar como auxiliar de balcão na loja de Michel Farah (a famosa Loja Santa Therezinha), de onde se transferiu quatro anos depois para a Casa Aurora, de Antero Nogueira (os dois espaços agora ocupados pela rede de farmácias Droga Mais). Suas atividades como comerciário lhe proporcionaram não apenas ânimo para trabalhar como experiência para abrir seu próprio negócio. Por conseguinte, entre 1946 e 1950 ele gerenciou a Casa Comercial Santo Antônio. Logo depois, tornou-se proprietário do Bar Ideal, localizado defronte da estação ferroviária. Graças a esses serviços, consolidou muitas amizades, fazendo-se conhecido pelos moradores de Miguel Pereira e também pelos turistas que desembarcavam amiúde na cidade.

Nelzinho era um homem tranquilo, de fala serena e conversa agradável e sua educação simples transparecia de maneira natural, fazendo-o ser tanto atencioso quanto generoso com as pessoas que dele se aproximavam. De fato, Nelzinho cultivava o prazer pelas coisas públicas e debatia com fervor os problemas que afligiam Miguel Pereira, então um distrito subordinado a Vassouras. Namorava as ações políticas e gostava de participar das reuniões destinadas a criar um movimento que emancipasse a cidade do domínio político vassourense, sempre expondo seus pontos de vista de maneira clara e objetiva.

Em 1950 concorreu a Câmara de Vassouras, mas conseguiu apenas uma vaga de suplente. Já casado com D. Ilza (Mana) dos Prazeres desde 1946, Nelzinho pôs-se a trabalhar como chofer de praça (taxista) em 1951, criando então seus três filhos: Ilma (com 4 anos), Sérgio (com 3 anos) e o caçula Manoel Junior (de apenas 1 ano), ao mesmo tempo em que aguardavas as eleições de 1954. Eleito vereador, tomou posse em 1955, passando a acompanhar na Câmara vassourense os movimentos pró e contra a emancipação de Miguel Pereira, evento ocorrido em 25 de outubro de 1955.

Sua atuação como homem púbico levou-o ao cargo de escrivão do Cartório do 2º Ofício de Miguel Pereira, em 9 de novembro de 1956, logo após a instalação da Comarca do novo município, atribuição ampliada em 1960 com sua nomeação para o Cartório Eleitoral de Miguel Pereira. Atuando como vereador em Vassouras e como escrivão em Miguel Pereira, pareceu a todos bastante natural a indicação do seu nome para concorrer ao cargo de prefeito de Miguel Pereira. Assim, em 1966 Manoel Guilherme Barbosa encetou sua campanha pelo extinto PTB, partido pelo qual, a propósito, sempre se candidatou, exceto em 1976, quando se filiou ao PDT. Foi eleito no sufrágio de 15 de novembro de 1966, obtendo uma votação absolutamente notável que atestava sua liderança política em Miguel Pereira.

Tendo pela frente quatro anos de mandato, a princípio pôde Nelzinho elaborar seus planos com vagar e atenção, neles gastando alguns meses de intenso trabalho junto à sua equipe. Uma das obras mais prioritárias para Miguel Pereira - com reflexos para Paty do Alferes - era o asfaltamento da estrada de ligação entre estas duas cidades, o que foi conseguido junto ao então governador do Estado, o Sr. Geremias de Mattos Fontes. Contudo, foi do seu Diretor de Turismo - o empresário Abraham Medina - a ideia de plantar roseiras ao longo da cerca que acompanhava os trilhos da ferrovia, desde a sede da Prefeitura (hoje restaurante Bom Clima), no Largo da Vitória, até a Praça da Bandeira. Assim, os moradores e visitantes de Miguel Pereira viram-se presenteados com as rosas que os saudavam diariamente, iniciativa que deu origem ao título de Cidade das Rosas para o lugar, projeto que, infelizmente, não foi mantido pelos governantes ulteriores a Nelzinho.

A par de muitas atividades, Nelzinho acalentava seu mais caro sonho: construir a sede da Prefeitura Municipal. De fato, as modestas instalações administrativas do velho prédio do Largo da Vitória não mais apresentavam condições de abrigar serviços municipais e funcionários, sendo o próprio Gabinete do Prefeito uma salinha devassada, sufocante e desconfortável. Manoel Guilherme Barbosa marcou sua primeira gestão com essa obra de vulto, de cuja conclusão, aliás, muitos duvidavam. Porém, levantar em Miguel Pereira a sede da Prefeitura não era apenas uma atitude inadiável e fundamental: era algo necessário, prioritário e que não mais podia ser postergado.

Contrariando alguns interesses locais e enfrentando a férrea e irada resistência da família Rodrigues Ferreira, proprietária das terras que ele escolhera para a Prefeitura, o destemido Nelzinho desapropriou uma grande área com cerca de 10.000 metros quadrados junto a uma encosta a cavaleiro do centro de Miguel Pereira, próxima da sede social do Miguel Pereira Atlético Clube. Na época, o Poder Executivo não se fez de rogado em desembolsar a apreciável quantia de CR$ 45.000,00, determinada em querela judicial, não apenas suficiente para cobrir o processo de desapropriação como perfeitamente adequada às dimensões das terras compradas.

Os trâmites legais e os processos judiciais enfrentados pela Prefeitura revelaram-se longos, dispendiosos e cansativos, mas as obras correram céleres e sem qualquer solução de continuidade, e a Prefeitura finalmente viu-se inaugurada em 13 de janeiro de 1971 em meio a grandes comemorações comandadas por Nelzinho e pelo seu vice João da Silveira Duarte. Além disso, o prédio fora erguido já se prevendo a construção de um segundo pavimento, este destinado a acomodar as dependências da Câmara Municipal, o que de fato aconteceu em 25 de outubro de 1977, na segunda gestão do próprio Nelzinho.

Com efeito, este foi o fato mais significativo do seu segundo mandato, exercido no período de 31 de janeiro de 1977 a 30 de janeiro de 1983, quando tinha ao seu lado o vice Gephes de Oliveira. Nelzinho ainda tentou uma terceira gestão nas eleições de 1988, mas na ocasião acabou sendo derrotado por Roberto Daniel Campos de Almeida. Faleceu aos 77 anos no dia 17 de outubro de 1999. A esposa Mana completará, em novembro, seus 96 anos muito bem vividos, residindo, ainda, em Miguel Pereira.