Dr. José Rezende - Casas, ruas e loteamentos pioneiros do município - Parte V

Trajetória Política e Social de Miguel Pereira

 21/10/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 420
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Voltando às lembranças do comerciante Sebastião Teixeira Portela, suas filhas Erlita, Eloá, Elocy, Ednéa e Evanda iam se casando e contribuindo para o aumento da família, permanecendo solteira apenas a mais nova, a professora Eliane. Dos filhos, Ely, o mais velho - que exerceu o cargo de vereador por Miguel Pereira nos períodos 1967/1970 e 1973/1977 - chegou a administrar o açougue deixado pelo pai, por sinal o mesmo tipo de comércio explorado pelo seu irmão Elmo, em Governador Portela.

Por seu turno, Everardo - mais conhecido como Poroca - casou-se com uma descendente da família Ribeirinha, vindo a ser funcionário da Prefeitura Municipal de Miguel Pereira por longos anos. Já Edmar - Mazinho - administrou com êxito seu posto de lavagem de automóveis à Rua Luiz Pamplona, ao passo que o caçula Élcio, como já foi dito em texto anterior, exerceu a medicina por largo período em nosso Município.

Retornando à Rua da Estação, devemos registrar que, estimulados pelos exemplos dados por alguns negociantes pioneiros e otimistas, outros comerciantes logo acorreram para as proximidades da linha férrea. No final da rua, a família Pereira Soares de pronto ergueu o Hotel Guaporé, casa especializada em hospedar principalmente os vários mascates e vendedores que apareciam diariamente na cidade. Após sua desativação, instalou-se em suas dependências inferiores a agência miguelense do Banco do Brasil, dali transferida para outra rua somente em abril de 2001.

Por seu turno, outro imigrante de origem árabe - George Dau - construiu, bem próximo do Hotel Guaporé, uma concorrida loja de tecidos, miudezas e aviamentos, trazendo para sua casa, nos fundos da loja, toda sua família. No local, hoje, funciona um restaurante.

Já no topo do pequeno outeiro localizado nos fundos da casa de Dau e de onde se divisava a estação ferroviária, nasceram, nos anos trinta, a residência e o consultório do Dr. José Rezende, uma casa geminada de extremo bom gosto que de imediato atraiu a atenção e os elogios dos miguelenses.

Esse conhecido cirurgião-dentista veio para Miguel Pereira em 1930, trazendo a esposa Albertina da Costa e os filhos Moacir (que se tornou o primeiro fotógrafo a registrar o cotidiano da vila e cujas fotografias históricas, em grande quantidade, são referências fundamentais em qualquer pesquisa imagética de Miguel Pereira) e Lourdes (também cirurgiã-dentista, como o pai). Desembarcando em nosso território, vinda de Belo Horizonte, a família Rezende instalou-se na velha Fazenda da Prata, na área de Monte Líbano, lá pelas bandas de Fragoso, porém dois meses depois mudou-se em definitivo para o centro de Miguel Pereira, residindo, a princípio, no antigo prédio onde, em 1937, seria montada a primeira Companhia Telefônica da região, na área hoje ocupada pelo Edifício Duarte. O Dr. Rezende* passou a atender nessa casa provisória, ao mesmo tempo em que orientava as obras de construção de sua residência/consultório mais adiante.

De fato, aproveitando um ensolarado outeiro nas cercanias da estação ferroviária, podia ele também usar uma pequenina ruela lateral como acesso mais rápido e fácil para aquele terreno, servidão que no futuro seria ampliada e batizada com o nome de rua Coronel Júlio Pitta. Para o Dr. Rezende, o ponto era ideal, pois os materiais de construção por ele encomendados no Rio de Janeiro podiam ser transportados com comodidade e ligeireza para a sua obra, tendo em vista que, chegados pelos trens, bastava atravessar a Rua da Estação para depositá-los aos pés da construção.

A partir da ocupação de sua residência e da abertura do seu consultório, o Dr. Rezende pôde enfim dedicar-se com tranquilidade à sua profissão, vindo a ser não apenas requisitado sem trégua pela população como ainda profundamente estimado por todas as famílias do lugar, em virtude de sua meiguice e do seu grande senso de solidariedade humana.

Tempos depois, na área inferior do terreno, levantou-se um largo sobrado para a família. Nele, Lourdes Rezende implantou seu próprio consultório dentário, deixando-o anos depois para seu sobrinho Nelson, que ali também exerceu a mesma profissão da família, mantendo o sonho do velho Rezende de criar em Miguel Pereira uma casta de dentistas.

A despeito do significativo crescimento da Rua General Ferreira do Amaral, precisamos retroceder no tempo e abrir o ano de 1923, quando apareceu na cidade uma pequena casa comercial montada pela família de Domingos Leitão*: nela se instalou o primeiro Bar Leitão, transformado posteriormente em loja de miudezas e aviamentos por João "Bolão" Machado e hoje acomodando a uma drogaria anteriormente conhecida como Farmácia do Abel. Finalmente, a área central de Miguel Pereira - inserida entre os trilhos e o córrego do Sacco - passava a ser ocupada pelos destemidos pioneiros de nossa cidade, que dessa forma estabeleciam o ponto de partida para a urbanização da área batizada depois como Largo do Machadinho, denominação que rendia um justo tributo a Antônio da Silva Machado, o criador da Capela de Santo Antônio lá pelos idos de 1897.

Com efeito, aquela área nunca merecera confiança por parte dos comerciantes em função das cheias constantes do ribeirão do Sacco. Porém, aos poucos ela foi se valorizando, principalmente pelo fato de se situar bem às bordas dos trilhos e a poucos metros da estação ferroviária. Assim, ao lado do Bar Leitão, o comerciante Avelino Lopes Ribeiro (pai do falecido vereador Geúdece Lopes Ribeiro) tratou de abrir seu armazém de secos e molhados, concorrendo em seus negócios com os empórios de Juju e Alberto Corrêa. Tempos depois, Avelino repassaria o negócio para o casal Antônio Real/ Filomena, que, por seu turno, transferiu-o para Heleno Leal, criador do Bar Leal, hoje ainda em funcionamento e abrigando também uma agência das Loterias da Caixa Econômica Federal.

*Tanto a família Domingos Leitão quanto a do Dr. Rezende (José Rezende) foram homenageadas e viraram nomes de rua no bairro Plante Café.

IMAGEM: Conclusão das obras da casa do Dr. Rezende à rua Gal. Ferreira do Amaral. Na parte inferior, seriam erguidas algumas lojas comerciais

Na próxima edição: Casas, Ruas e Loteamentos Pioneiros do Município - Parte VI