Escola Profissional Carvalho de Souza - Senai

Urgia instalar na região um centro de formação profissional que, em tempo relativamente curto, formasse trabalhadores capacitados para as áreas mais necessitadas da Linha Auxiliar.

 09/12/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 427
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Nos anos quarenta da centúria anterior, novas necessidades de ensino emergiam com força em Portela e Miguel Pereira. As séries regulares dos então chamados Cursos Primários não mais se mostravam suficientemente capacitados a atender a multiplicação de alunos e à constante demanda de mão-de-obra especializada que o crescimento das cidades impunha. Em pouco tempo, a ferrovia descobriu-se carente de funcionários e técnicos que pudessem exercer alguns serviços fundamentais ao longo da movimentada Linha Auxiliar. Com efeito, a Estrada de Ferro, tão onipresente na serra e desfrutando o apogeu de suas atividades entre Japeri e Porto Novo do Cunha, dependia bastante de mecânicos, serralheiros, carpinteiros, funileiros, eletricistas, pintores, bombeiros hidráulicos, torneiros, agentes administrativos e metalúrgicos em geral, ou seja, toda uma plêiade de profissionais qualificados e bem treinados que um ensino regular primário jamais poderia oferecer.

Urgia, pois, instalar na região um centro de formação profissional que, em tempo relativamente curto, formasse trabalhadores capacitados para as áreas mais necessitadas da Linha Auxiliar. Essa admirável ideia foi consubstanciada em 24 de outubro de 1942, quando se fundou, em Governador Portela, o Centro de Formação Profissional com o título de Escola Profissional Carvalho de Souza, décadas depois transformada em SENAI.

Quase todas as classes sociais de Portela e Miguel Pereira fizeram-se representar naquele ato tão importante para o lugar, destacando-se o Sr. Hugo Corrêa Bernardes, enviado especial de Edmundo Peralta Bernardes (então prefeito de Vassouras); a professora Conceição da Costa Pinto, Diretora do Grupo Escolar Dr. Álvaro Alvim, e dezenas de professores, estudantes, pais e ferroviários acompanhados de seus familiares.

Como representantes da Estrada de Ferro, falaram durante a festa o engenheiro José Moacir de Andrade Sobrinho (Chefe de Ensino e Seleção enviado do major Napoleão Alencastro Guimarães, chefe de Gabinete de João de Mendonça Lima, Ministro de Viação e Obras Públicas); o engenheiro Umbelino Pereira Martins (Inspetor de Ensino Profissional e representante do engenheiro e industrial Celso Suckow da Fonseca, que hoje batiza o CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica); o engenheiro Luiz Rodrigues de Carvalho (Chefe do Depósito da Ferrovia e representante do Dr. Lauro de Miranda, Chefe da Divisão da Linha Auxiliar); o engenheiro Tito Martins Costa (representando o Chefe do Serviço de Reflorestamento da Estrada de Ferro) e o senhor Afonso Pragana (representante do Chefe do Departamento de Material da Estrada de Ferro acompanhado da esposa Jandira Telles Leme Pragana, Diretora do Grupo Escolar de Miguel Pereira). Após a execução do Hino Nacional e da palavra do Dr. José Moacir de Andrade dando como inaugurada aquela unidade escolar, empossava-se então seu primeiro Diretor, o engenheiro Luiz de Carvalho.

A Escola foi aberta com uma turma de 15 alunos, dos quais, ao final do curso, seis viram-se diplomados no chamado Curso Rápido Profissional e sete habilitados pelo Curso Normal de Formação Profissional.

Ao longo de aproximadamente cinquenta anos de existência, a Escola Profissional Carvalho de Souza abrigou, em suas salas e oficinas especializadas, quase uma centena de professores e instrutores de altíssima qualificação, entre eles Darcy Jacob de Mattos, Adir Alves de Moraes, Alcebíades Balthar, Abílio Alves dos Santos, Darcy Trajano, Ernâni Costa Bento, Estêvão Santana Monsores, Fernando J. F. Lemos, Fernando Marques Duarte, Hélio Ferreira Zóffoli, Perácio Pimentel, Virgílio J. P. Filho, Nelsino Jorge da R. Valle, Sebastião de Freitas, José Gomes e Pedro Alves de Cristo.

Austera em sua proposta de trabalho pedagógico, extremamente responsável na disciplina transmitida aos alunos e consciente de sua cidadania, a Escola Profissional Carvalho de Souza conseguiu, no decurso de meio século, colocar nos quadros da Rede Ferroviária centenas de alunos extremamente habilitados, logrando ainda fornecer trabalhadores de alto nível técnico para outras grandes empresas do país, entre elas a Companhia Siderúrgica Nacional, a Santa Matilde, a Thyssen Fundações S/A, a Light, a Telerj, os Estaleiros Verolme e a Ishikawagima, a Phillips, a Petrobras, as Furnas Centrais Elétricas e a General Electric.

     Com o lamentável enfraquecimento da ferrovia entre os anos sessenta e setenta, a Escola Profissional lentamente perdeu a atração que despertava nos jovens do município, visto que não mais poderia formar profissionais capazes de serem absorvidas pela Estrada de Ferro. Persistiu durante algum tempo, é verdade, mas injunções financeiras severas e a perda de seu mercado especializado levaram seus diretores à triste conclusão de que aquele notável centro de ensino perdera sua razão de ser. Em última tentativa de mantê-la em atividade, acabou sendo encampada pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), mas nem mesmo este sistema de atendimento manteve-se firme em nosso município. Tipicamente um centro estudantil masculino, por um par de anos o estabelecimento ainda recebeu uma leva de estudantes, abrindo espaço para meninas, mas seu destino estava traçado: de maneira inexorável, a pioneira escola viu todo seu notável patrimônio relegado a um abandono absurdo e mesmo inimaginável.

Todavia, em 1999 o então prefeito Roberto de Almeida, ao lado da secretária de Educação Maria das Graças de Ávila Guimarães, decidiu adquirir as dependências da escola, municipalizando-a e agregando-a à rede municipal de Miguel Pereira com a titulação Escola de Formação Governador Portela. Foram realizadas, então, diversas obras de restauração de seus ambientes e intervenções em todos os seus espaços, trazendo para Portela um belo conjunto educacional até hoje em plena atividade atendendo alunos no 2º Segmento de Ensino Fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano.

 

IMAGEM: Formatura na Escola Profissional (final dos anos cinquenta)

 

Na próxima edição: Adalmar Corrêa da Silva e A Escola Normal Professora Adalice Soares