Adalmar Corrêa da Silva & a Escola Normal Adalice Soares

Episódios Especiais do Passado de Miguel Pereira

 16/12/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 428
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O professor e vereador Adalmar Corrêa da Silva (em Portela carinhosamente conhecido com Espiga de Milho Verde e Mestiço pelo fato de ser ruivo) nasceu em 12 de julho de 1929 na cidade capixaba de Colatina, tendo como pais Adalberto Corrêa da Silva e Maria Júlia Corrêa da Silva.

Curiosamente, suas primeiras letras foram aprendidas na cidade de Governador Valadares (Minas Gerais), onde completou o antigo Curso Primário nas Escolas Reunidas da cidade. Retornando ao Espírito Santo, ingressou no Curso de Admissão ao Ginásio São Vicente de Paula sediado na capital Vitória, concluindo, assim, seus estudos básicos fundamentais.

Estudante dedicado e objetivando trabalhar na estrada de ferro, em pouco tempo tornou-se um profissional especializado em radiotelegrafia entre os anos de 1942 e 1945 com diploma expedido pela Escola do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Vitória, o que lhe garantiu o tão almejado posto na ferrovia do estado. Não se conhece a data exata de sua transferência para Governador Portela, porém em pouco tempo Adalmar se fez conhecido na cidade, em especial pela sua maneira afetuosa de lidar com os amigos e com o povo do lugar.

Dinâmico, participativo, simpático e idealista, imediatamente ganhou numerosos seguidores ao difundir suas ideias e projetos em relação à educação e ao aprimoramentos das escolas do lugar e, principalmente, por participar dos movimentos sociais e comunitários que circulavam em Portela e Miguel Pereira buscando a emancipação político-administrativa de Vassouras. Também em Portela o coração se fez presente, e por conseguinte casou-se com Alahir do Valle Corrêa da Silva, com ela gerando seus quatro descendentes: Liléia, Lílian, Leila e Adalberto (falecido prematuramente).

Adalmar era dotado de um forte dom de comunicação. Assim, criou um serviço e alto-falantes pelo qual diariamente exortava os ouvintes a participarem dos movimento políticos locais, ao mesmo tempo em que divulgava as atividades festivas, educacionais, culturais, esportivas e até mesmo religiosas de Portela.

Excelente e convincente orador, viu o resultado de suas ações sociais logo surgirem. Foi eleito para a Câmara de Vereadores, exercendo seu cargo legislativo ao longo da 2ª 3ª, 4ª, 5ª e 6ª legislaturas (janeiro de 1959 a dezembro de 1976), ocupando ainda a presidência da Câmara no interregno 1968/1969.

Trabalhou também na Rede Ferroviária Federal por 39 anos e 2 meses nas funções de Assistente Comercial do Ministério dos Transportes, o que não impediu de concluir dezenas de cursos de especialização nas mais diversas áreas de educação e de pedagogia.    

Preocupado com a pouca oferta de ensino na cidade, trabalhou intensamente para a fundação do Ginásio Governador Portela, entidade logo autorizada a funcionar pela Portaria nº 443 publicada em 21 de março de 1957 no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro. Diga-se de passagem, o colégio agregou-se à CNEG (Campanha Nacional de Escolas Gratuitas, movimento educacional criado em1943 pelo professor Felipe Tiago Gomes em Recife, posteriormente CNEC). Com efeito, o colégio, então noturno, foi um marco na região, mas por falta de prédio próprio passou a funcionar nas dependências da Escola Profissional Carvalho de Souza.

Três anos depois, viu realizado mais um sonho: a criação de uma escola dedicada à formação de professoras. Inicialmente criada com o nome de Escola Normal Professora Adalice Soares, esta unidade de ensino surgiu em 11 de fevereiro de 1960 através do Decreto 6.918 expedido por Roberto Silveira, então Governador do Estado do Rio de Janeiro, com o título homenageando uma das mais antigas e expressivas professoras de Portela. A partir de então, o ensino viu-se ungido pelo profissionalismo que ainda faltava não apenas em Portela, mas também em outras localidades periféricas. Afinal, as aulas até então ministradas por leigos e por voluntários dedicados passaram a ser aplicadas por docentes com a necessária qualificação didática e pedagógica, e o mais importantes e gratificante: exercidas por educadoras diplomadas na própria cidade.

 

A 1ª turma de professoras

 

A primeira turma de professoras formou-se em 1963, certificando-se as estudantes Dalziza Vianna Dutra; Suely Vianna Dutra; Rosa Maria Randig Rezende; Maria Hilda de Figueiredo Pinheiro; Elza Alves; Edurci Fidélis; Joyce Cynthia da C. Gepp; Márcia Fraga; Luzia Langoni Ribeiro e Linda Victória Abdue. Atuavam na época, sob a batuta da diretora Cecília Gomes Ribeiro, os pioneiros professores Charles Gepp; Dr. Manoel Vieira Muniz; Maria José Souto Soares; Alcebíades Laudelino Balthar; Sebastião de Freitas (Tatão); Therezinha Mesquita; padre José Kropf; Nildéa de Ávila; Amaryllis Queiroz de Almeida e Regina Maria Moreira Barbosa.

Adalmar faleceu em 23 de fevereiro de 1992. Com toda justiça, seu nome hoje batiza a Biblioteca Municipal de Governador Portela.  

Graças ao trabalho de abnegados portelenses e de outros mestres da região, a escola manteve-se firme em seu rumo até os finais dos anos noventa (já sob a direção da professora Vânia Maria Vieira Queiroz) quando sucessivas crises financeiras determinaram sua lamentável desativação.

 

Transformação em escola municipal

 

Em face da necessidade de uma escola mais ampla que abrigasse o elevado número de alunos oriundos da então desativada Escola Municipal São João Batista, que iriam se somar àqueles que já se encontravam na Escola Adalice, o Prefeito Fernando Pontes Moreira houve por bem adquirir o prédio do Colégio Adalice Soares nos anos 2000, aglutinando-o à rede municipal de Miguel Pereira, porém mantendo sua designação original em respeito ao relevante histórico de educação que tal educandário deixara gravado em Governador Portela.

A Escola Adalice Soares atende crianças na Educação Infantil (Pré I, Pré II e Pré III) e mais estudantes do 1º Segmento do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), além de jovens inscritos no Programa de Aceleração.

Vale lembrar que, hoje, o segundo pavimento do prédio abriga as dependências do CEDERJ (da Universidade Aberta do Brasil) que oferece os cursos de Licenciatura em Pedagogia, História, Matemática e de Tecnólogo em Turismo dentro do moderno sistema de ensino EAD (Ensino a Distância).

 

IMAGEM: A primeira turma de professoras da Escola Adalice Soares em 1963.