O Barão de Mentzingen e a Fazenda Monte Líbano

O barão de Mentzingen teve estreita ligação com a fazenda Monte Líbano, no alto de Vera Cruz

 03/02/2023     Historiador Sebastião Deister      Edição 435
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O barão de Mentzingen teve estreita ligação com a fazenda Monte Líbano, no alto de Vera Cruz. Como já vimos em texto anterior, ele dirigiu um grupo de homens para a limpeza da estrada de acesso à propriedade quando da visita do Conde d'Eu à região. Por outro lado, a pedido de Manoel Peixoto de Lacerda Werneck, filho do Barão de Paty e então dono daquelas terras, Mentzingen fez a medição oficial da Monte Líbano, conforme consta da transcrição abaixo (com ortografia e sintaxe de época):     

 

"ATTESTO E FAÇO CERTO Que fui convidado pelo DR. MANOEL PEIXOTO DE LACERDA WERNECK, proprietário da Fazenda denominada do Monte Líbano, sita na Freguesia de Sant´Anna das Palmeiras, Município de Iguassú, para aviventar os rumos antigos de sua fazenda e medir para levantar a planta da mesma juntamente com o calculo superficial.

Para esse fim fomos ao Marco angular das terras compradas a BENTO ANTONIO MOREIRA DIAS, para o lado do Norte, na linha divisoria das terras que foram compradas ao fallecido DUARTE, deste Marco segui na divisão de 58º 30´ do Quadrante Sudoeste por meio de um cafesal da mesma fazenda, accompanhando depois uma cerca de espinhos na divisa com o Commendador FELÍCIO AUGUSTO DE LACERDA, encontrando depois uma matta virgem, passando sempre por vestigios da medição antiga, chegando-se com 1.500 braças ou 3.300 metros, ao fim da linha a qual estava assignalada com um Marco de pedra bruta.

Deste lugar se seguiu em direção de 31º 30´ Sudoeste, e se mediu a divisa com terras devolutas 586 braças, ou 1.289 metros, aonde estava fincado outro Marco que faz canto das terras de JOSÉ DA ROCHA CHAVES; deste Marco se chegue a uma linha parallela à da primeira 58º 30´ Noroeste, pela divisão do mencionado ROCHA, e se mediu até o canto 1.500 braças, ou 3.300 metros, aonde se tem um Marco de pedra bruta, de cuja pedra se segue na direção de 31º 30´ Noroeste e se mediu até uma cerca de espinhos 66 braças, ou 145, 20 metros, accompanhando esta cerca de espinhos, pelas diversas direcções, conforme mostra a planta junta, se seguindo no fim da mesma cerca, o ribeirão denominado de Prata, até a proximidade do rio Santana, aonde se encontra a linha divisoria dos terrenos pertencentes aos herdeiros do finado VICENTE FERREIRA, cujo rumo corre na direcção de 74º­ Noroeste, e seguindo este rumo e medindo 816 braças, isto é, 1.795,20 metros, se chegou no canto dos terrenos que são hoje de JOSÉ JOAQUIM DA FONSECA, onde se achou cravado um Marco de pedra bruta. Desse marco segue o rumo antigo da Sesmaria do Padre Werneck, hoje dividindo com o Commendador FELÍCIO AUGUSTO DE LACERDA, e mediu na divisão de 69º Sudoeste, e até encontrar o rumo do princípio da nossa orientação 560 braças ou 1.232 metros.

Formando desta forma a configuração deste terreno uma configuração toda irregular com uma área de 1.163.966 braças quadradas, equivalentes a 563 hectares, mais 30 ares e 96 centiares (m2). E por me ser pedido, passo o presente por mim feito e assignado.

 

MONTE LÍBANO, 22 DE SETEMBRO DE 1877

GUILHERME DE MENTZINGEN

 

          Como testemunhas, José Joaquim da Fonseca, A ROGO de D. Margarida Joaquina de Almeida Fonseca; Joaquim Teixeira Portella; José da Rocha Chaves; Anna de Jesus Rocha; Manoel Vicente Pereira da Silva; Paulina Maria da Silva; Luiz Quirino da Rocha Gomes; Thereza de Jesus Maria Gomes; João Nicoláo Pereira da Silva; Indelvinda Lucinda da Rocha Silva; Pp. Commendador Felício Augusto de Lacerda, Affonso da Costa Braga A ROGO de D. Maria da Piedade Ribeiro de Lacerda.

 

IGUASSÚ, 23 DE NOVEMBRO DE 1877

 

Estavam selladas e devidamente utilizadas 2 estampilhas do valor total de 400 réis.        

 

Nada mais se continha e nem declarava do que dou fé, apontado em seus autos de medição e aviventação dos rumos da Fazenda do Monte Líbano, que correu pelo Cartório do Escrivão, JOAQUIM IGNÁCIO BUENO DE FARIA, da VILA DE IGUASSÚ, em que são Supplicantes o Dr. MANOEL PEIXOTO DE LACERDA WERNECK e sua mulher D. EVELINA TEIXEIRA DE MACEDO WERNECK, de cujo apontado EU, TABELLIÃO, fiz pedido da parte extrahir a presente PUBBLICA FORMA que conferi, achei-a em tudo conforme e subscrevo-a e assigno em pubblico e razo, nesta cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal da República dos Estados Unidos do Brasil, em 16 de janeiro de 1897.

 

EU, PEDRO EVANGELISTA DE CASTRO, TABELLIÃO

 

Subscrevo e assigno em Pubblico e razo.

 

Em testemunha da verdade (estava o signal pubblico), PEDRO EVANGELISTA DE CASTRO

 

Nada mais se continha em a Pubblica Forma que me foi apresentada para ser reproduzida em copia legal e authentica, tendo da mesma feito extrahir a presente Pubblica Forma que, depois de conferida e arrestada por Tabellião companheiro, achada em forma, entreguei o original ao portador e esta que subscrevo e assigno nesta cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil, em 30 de maio de 1920.

 

EU, ARTHUR CARDOSO DE OLIVEIRA, TABELLIÃO INTERINO, QUE SUBSCREVO E ASSIGNO. (15º­ TABELLIÃO T. MOREIRA)"

 

Inventariada após a morte do Barão de Paty (ocorrida em 22 de novembro de 1861), Monte Líbano, portanto, coube a seu quarto filho, o Dr. Manoel Peixoto, que recebeu terras e mais os bens de raiz com 350 braças (cerca de 770 metros) de testada em quadra. A fazenda, situada numa das faldas mais ensolaradas e férteis das montanhas que circundam Vera Cruz, bem a cavaleiro do rio Santana, foi grande produtora de café na metade do século XIX, mas hoje restam ali apenas os destroços de seu naufrágio. Manoel faleceu em 23 de março de 1898, um ano depois de receber toda a documentação relativa à posse de sua fazenda, deixando viúva Evelina Teixeira de Macedo Werneck e órfãos os filhos Olívia, Sérgio e Francisca.

 

A propriedade Hoje

 

Lá pela metade do século XX, um empresário de Miguel Pereira tentou transformar a velha Monte Líbano num Hotel Fazenda, nela alocando inclusive um pequeno cassino, mas tal empreendimento revelou-se um fracasso. Hoje, a propriedade pertence ao espólio da família de Ivo Pontes, de Miguel Pereira.

 

Imagem: As ruínas de Monte Líbano em 2012

 

Na próxima edição: Estradas Pioneiras e a Fazenda São João da Barra - Parte 1