A noite de futebol dos "coroas" de Miguel Pereira

Noite de Futebol dos Veteranos de Miguel Pereira, no campo do Central Atlético Clube uso de inéditos refletores em seu estádio

 23/06/2023     Historiador Sebastião Deister      Edição 455
Compartilhe:       

Com a participação de quatro equipes, a Noite de Futebol dos Veteranos de Miguel Pereira (Noite dos Coroas, realizada em 16 de julho de 1969) transformou-se realmente em um dos eventos mais divertidos programados para o campo do Central Atlético Clube que comemorava, também, o uso de inéditos refletores em seu estádio.

Por outro lado, os jogos tinham por objetivo reunir não apenas antigos jogadores da cidade, mas também empresários, profissionais liberais, comerciantes e políticos já passados dos seus quarenta ou cinquenta anos. Como não poderia deixar de acontecer, o público (realmente extraordinário para uma noite um pouco fria) entusiasmou-se com a ideia e com a "rapaziada" que iria entrar em campo, havendo inclusive torcidas organizadas com foguetes, papéis picados e bandeiras agitadas constantemente, numa festa de grande colorido e entusiasmo e, principalmente, de enorme diversão.

Formaram-se quatro "esquadrões", a saber: um comandado pelo prefeito Manoel Guilherme Barbosa (Nelzinho), outro sob a orientação do vigário Frei José Kropf, um terceiro escalado pelo Dr. Marcus Calmon Du Pin e Almeida e o quarto tendo à frente o Dr. Manoel Vieira Muniz. De comum acordo, ficou estabelecido que cada jogo teria entre 20 e 25 minutos, no máximo, uma vez que os "atletas", por conta do fôlego reduzido e da rotunda compleição abdominal nenhum deles teria condição de correr mais do que isso.

Na partida de abertura enfrentaram-se as equipes do Nelzinho (camisas brancas) e do Dr. Calmon (camisetas vermelhas) sob a arbitragem de Arthur Alves Freire. O time do prefeito, entre outros "cobras", alinhou o farmacêutico Aymar Ferreira Gomes como goleiro (inclusive usando óculos), Izaías de Souza, Antônio Martins, Caboclo Lavinas, Hélio Moreira, o próprio Nelzinho, Moacir Machado, professor Mário Lopes Rêgo (aplaudido delirantemente por uma torcida organizada por muitos de seus alunos), Tião Costa. Hamilton Gomes e Edmundo Oeste. Já seu adversário escalou o goleiro Araquem (uma surpresa, já que se tratava de um veranista na cidade), Cezinha Garcia da Lanchonete, Oriente, João Bolão, Alvinho Corrêa, Bruno Martins, Acácio Duboc, Elias e outros "cobrões".

Claro está que a disputa presenteou a torcida com longos escorregões, quedas vergonhosas e reclamações com a arbitragem. De qualquer forma, alguns massagistas improvisados de pronto entravam em campo para socorrer aqueles que tombavam após um encontrão inesperado. O time do prefeito venceu com alguma dificuldade por 1 x 0, classificando-se para a grande final, e o juiz Arthur Alves Freire foi bastante "elogiado" pelos torcedores após anular um gol marcado por Moacir Machado.

Na segunda partida "mediram forças" as equipes de Frei José Kropf (de amarelo) e do Dr. Muniz (com camisetas azuis). Esta foi a disputa mais acirrada e uma das mais cômicas, além de proporcionar alguns lances realmente inusitados. Por exemplo, houve três bolas espetaculares nas traves, sendo que uma, atirada por Frei Henrique, pároco de Portela, foi realmente muito bonita fazendo o público vibrar e aplaudir. O time de Frei José abriu o marcador, com um gol do professor Dirson. Logo em seguida Chico Bernardes empatou pela equipe adversária, mas novamente Dirson colocou sua equipe em vantagem, estabelecendo o marcador final em 2 x 1.

A equipe do Frei José mandou a campo Anelo Badolati (no gol), Frei Henrique (divertidíssimo e dotado de muito bom humor), Jorge Tavares, João Silveira, Antônio "Falafina" de Almeida, Tião Hilário, Lulu e professor Dirson. Na equipe do Dr. Muniz jogaram Ozorinho (como goleiro), Zé Mendes, Azuil, Waldemar Pereira Soares, Chico Bernardes, Izaac Monteiro, David Szulc e Sylvio Duboc. Jorge Aniceto (Mantiega) apitou o encontro.

Em seguida, com arbitragem de Danilo Ferreira Gomes, as equipes perdedoras - a do Dr. Calmon e a do Dr. Muniz - passaram a disputar o terceiro lugar do torneio. No tempo regulamentar houve empate em 0 x 0, e assim os times saíram para a decisão por penalidades máximas. Alvinho Corrêa cobrou pelo time do Dr. Calmon, convertendo 2 penalidades e jogando uma para fora. Pelo quadro do Dr. Muniz cobrou Ozorinho, marcando os três e dando a vitória para sua equipe, garantindo então o honroso posto de terceiro colocado.

Na partida final, com arbitragem de Guilherme Badolati, auxiliado nas bandeiras por Jorge Aniceto e Arthur Alves Freire, tivemos a decisão entre as equipe de Nelzinho e de Frei José Kropf. Houve também decisão por penalties, visto que o tempo normal terminara igualado em 0 x 0. Na cobrança, Lulu, pela equipe de Frei José, converteu brilhantemente as três cobranças, apesar da notáveis tentativas de defesa do goleiro Aymar (apesar dos óculos!). Hamilton, pelo time de Nelzinho, não foi feliz em seus chutes, e logo no primeiro arremesso permitiu a defesa do goleiro Anelo, que com a intervenção garantiu a vitória para sua equipe.

    Como colocação final, portanto, tivemos o esquadrão de Frei José em primeiro lugar, seguida pelo time do prefeito Nelzinho, depois pelo do Dr. Muniz e finalmente pela equipe do Dr. Calmon.

Alguns fatos inusitados e dignos de registro

- No jogo final, Nelzinho e João Silveira, numa disputa de bola, acabaram protagonizando um violento encontrão: prefeito e vice-prefeito esqueceram a burocracia e os cargos e disputaram o lance com vigor e decisão.

- Antes da partida, o goleiro Aymar reclamou do problema de jogar à noite. Afinal, lamentou, sem os óculos ele não enxergava absolutamente nada, mas mesmo assim foi para o sacrifício a fim de defender o time do amigo Nelzinho e acabou se tornando um dos grandes personagens do evento.

- Acácio Duboc, que defendia o time do Dr. Calmon, andou meio apagado dos jogos, mas aprontou logo um caso: aos berros, chamou o árbitro Arthur Alves Freire de "ladrão, ladrão", apontando-lhe o dedo em riste. A torcida fez coro com ele, acompanhando-o alegremente.

- Alguns jogadores acharam que realmente não teriam chance de vencer o quadro amarelo... Afinal, com dois padres no mesmo time, ele não poderia ser derrotado de forma alguma.

- Em meio à numerosa torcida, havia muita gente aflita, principalmente as esposas, que só ficavam a imaginar o dia seguinte, quando teriam de providenciar massagens, preparar chá quente e comprar remédios contra reumatismo, cãibras, artrites e luxações... além, é claro, de ficar ouvindo reclamações dos "coroas" que, positivamente, ficariam esgotados depois daquela vibrante noitada.

- Em matéria de "barrigas proeminentes", a disputa estava dura: Caboclo Lavinas, Oriente. Dr. Muniz e João Bolão eram os mais fortes candidatos ao título. Já no que se referia à magreza, Zé Tertuliano, Acácio Duboc, Aymar e Alvinho Corrêa disputaram com brilho a indicação.

 

- Em dado momento da terceira partida, Dr. Calmon recebeu uma bola pela ponta direita, e depois de deixá-la tranquilamente nos pés de Caboclo Lavinas, seu marcador, pediu aos companheiros que não o acionassem mais, já que não aguentava de tanto cansaço.

 

IMAGEM: Da esquerda para a direita: João Deister (presidente do Central AC); Carmosino de Oliveira; Dr. Muniz e ex-prefeito Nelzinho

 

Na próxima edição: Zezé Sodré, um Cidadão