Quero ter um vibrador, mas tenho vergonha
"Meu sonho como educadora sexual é que um dia as mulheres não tenham qualquer constrangimento em se dar prazer"
10/11/2023
Sexóloga Clarissa Huguet
Edição 474
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Mesmo com a explosão nas vendas
dos brinquedos eróticos que ocorreu durante o isolamento imposto pela pandemia
da Covid-19, um sem número de mulheres segue sem ter coragem de adquirir o seu.
Para se ter uma ideia, no Brasil, entre março, abril e maio de 2020, foram
vendidos 1 milhão de vibradores - 50% a mais do que o mesmo período do ano anterior
- levantamento realizado pelo portal Mercado Erótico.
É curioso como investir na
própria sexualidade, raramente está em primeiro plano na lista de prioridades
das mulheres. Pra ser sincera, o que eu vejo na prática é que bolsas e sapatos
têm estado na frente de autoconhecimento, prazer e, eventualmente, mais
orgasmos. Ainda há algo que bloqueia, que trava as mulheres quando elas pensam
em prazer sexual de forma individual. É comum ver a delegação da
responsabilidade pelo prazer para parceiros, homens, como se eles soubessem
mais e melhor como funciona o nosso corpo, como ficamos excitadas e como nosso
corpo acende de verdade.
Dá vontade rir para não chorar,
vontade de chacoalhar a mulherada e dizer: ACORDAAAA! Em 99% dos casos, eles
pensam primeiro no prazer deles, não têm conhecimento sobre a nossa anatomia,
muitos não sabem nem onde fica o clitóris e que ele é nosso órgão sexual
(depois do cérebro, naturalmente); insistem na penetração e no movimento estilo
britadeira, repetitivo e automático. Além disso, cada mulher é única, sente
prazer do jeito dela, e tem grande dificuldade em se comunicar sexualmente. Até
consegue mandar um "dirty talk" na hora do vamos ver, bem estilo performático
"gostosa safada", mas não fala o que realmente importa para maximizar o seu
prazer; se expressa dentro do esperado naquela experiência sexual onde o
protagonista é o homem e ela o serve. É ou não é?
Parte importante do meu trabalho como
educadora sexual é naturalizar este direito e acesso ao prazer. É passar a
ideia de forma clara de que cuidar de si mesma é um ato de autoamor e explorar
seu corpo é uma jornada natural e saudável que deve fazer parte da vida de
todas. Inclusive, a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) descreve a saúde
sexual como parte constitutiva de cada pessoa e como sendo um "estado de
bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade"; o que
significa que ter experiências sexuais prazerosas, seguras e livres de qualquer
tipo de violência também é cuidar da saúde, sua saúde sexual, parte
constitutiva do seu ser.
Meu sonho como educadora sexual é
que um dia as mulheres não tenham qualquer constrangimento em se dar prazer e
consigam incluir este hábito na agenda de compromissos, um compromisso lindo e
potente consigo mesma. E, se tiverem o desejo de adquirir e usar brinquedos
eróticos, que o façam sem culpa. Neste dia, eu vou saber que boa parte do meu
trabalho deu certo.
Lembre-se de que a sua
sexualidade é uma parte importante de quem você é. Não deixe que a vergonha ou
tabus a impeçam de buscar o prazer e a realização pessoal que você merece.
Estou aqui para apoiá-la em cada passo dessa jornada de autodescoberta e
satisfação.
Imagem Chenar
Mekael