Fazenda Manga Larga
Paty do Alferes a Caminho do Bicentenário - III
01/06/2018
Historiador Sebastião Deister
Edição 192
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Nascida
ao longo do Caminho Novo de Minas, a Sesmaria de Manga Larga (palco da importante
Fazenda Manga Larga de Baixo) foi doada em 29 de outubro de 1715 a José Mendes
de Carvalho, a quem, posteriormente, associou-se Francisco Gomes Ribeiro, "o
Moço". Filho de Sebastião Gomes e de Maria da Cruz, Francisco nasceu na
Freguesia de Albufeira (Portugal) em data não conhecida, sendo ali batizado.
Chegando ao Brasil, instalou-se na Fazenda Engenho da Posse, nas proximidades
da Vila do Pilar (hoje Duque de Caxias). Tinha como parentes mais próximos o
irmão-padre Marcos Gomes Ribeiro e como sobrinhos Paula da Cruz, José Rodrigues
Ribeiro, Luiz Rodrigues Ribeiro, Joaquim Rodrigues Ribeiro e Nicolau Rodrigues
Ribeiro, além de uma sobrinha-neta batizada como Joaquina Gomes Ribeiro (filha
de Paula da Cruz).
Em 13 de
fevereiro de 1716, Francisco obteve a concessão de uma sesmaria com uma légua
em quadra entre as terras que pertenceram a Marcos da Costa Fonseca Castelo
Branco e a Rocinha do Governo. Já em 23 de maio de 1725, ligou-se então a José
Mendes de Carvalho e assumiu de vez toda a Manga Larga, propriedade à época
demarcada com 3.000 braças de extensão (cerca de 6.600 metros quadrados), em
cujos domínios seria erguida a fazenda e surgiria, anos depois, a criação dos
ótimos animais de marcha batizados com o mesmo título do patrimônio deixado anos
depois por Francisco Peixoto de Lacerda Werneck: o famoso e valorizado cavalo
Manga Larga.
Entretanto,
é sabido o fato de que Francisco Gomes Ribeiro pouco permanecia na área de
Manga Larga, preferindo administrar pessoalmente sua fazenda na Posse ou então
cuidar da Fazenda Pau Grande (onde se estabeleceu em 1750), deixando a
propriedade de Paty do Alferes em mãos de alguns de seus prepostos, em especial
seu sobrinho-neto Antônio Ribeiro de Avelar. De fato, Francisco faleceu na Posse
em 14 de outubro de 1763, sendo testamenteiros os irmãos Antônio Ribeiro de
Avelar e Francisco Rodrigues Ribeiro, Domingos Gonçalves (mestre ferreiro e seu
compadre), Pedro Caetano Portela e o padre Francisco Pereira de Rezende, ligado
à Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, onde cumpria as funções
de capelão da Posse. Pouco antes de sua morte, Francisco determinou que se
erguesse uma capela em honra de Santa Rita, na Posse, o que foi feito através
de Provisão Eclesiástica de 22 de abril de 1765 graças aos trabalhos do já
mencionado sobrinho-neto Antônio Ribeiro de Avelar.
Por outro
lado, Francisco e sua prima-irmã Helena da Silva foram padrinhos do casal
Manoel de Azevedo Matos / Antônio Ribeiro (do Pilar) Werneck, os fundadores da Fazenda
Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz, hoje alocada em terras de Miguel
Pereira. Cumpre lembrar que Manoel e Antônia foram os pais do Capitão-Mor
Inácio de Souza Werneck, de Ana de Jesus Werneck e de Manoel de Azevedo Ramos,
em um cruzamento de amizades que acabaria por convergir para as atividades da
fazenda Manga Larga quando de sua administração por parte do Sargento-Mor José
Maria de Guadalupe, filho de Manoel de Azevedo Ramos e de Ana Maria Werneck.
Guadalupe e sua esposa (Maria Luiza d'Oliveira Werneck) tiveram os filhos Antônio
de Azevedo Ramos, Francisco de Azevedo Ramos e Fernando Luís dos Santos
Werneck, os três com passagens interessantes pela administração da Manga Larga,
em especial após o ano de 1789, quando deram partida à construção da Fazenda
Manga Larga de Cima, propriedade complementar da pioneira Manga Larga de Baixo.
Em 1853,
o Sargento-Mor José Maria de Guadalupe vendeu 373 braças x 1500 braças da Fazenda
Manga Larga de Cima ao comendador Francisco das Chagas Werneck, seu primo
direto, traçando assim uma linha divisória com a cachoeira da Manga Larga,
mantendo a Manga Larga de Baixo sob sua administração direta. Francisco,
entretanto, pouco tempo permaneceu na propriedade em virtude de sua idade já
avançada (nascido em 1778, já contava 75 anos quando ocorreram tais
transações), repassando-a três anos depois a seu filho José Inácio dos Santos
Werneck, casado com Carolina Isabel Peixoto de Lacerda Werneck, a quinta filha
do barão de Paty do Alferes (Francisco Peixoto de Lacerda Werneck), fazendeiro
que, no ano de 1859, comprou todas aquelas terras tanto ao genro José Inácio
quanto aos herdeiros de José Maria Guadalupe (já falecido). Na ocasião, o
complexo da Manga Larga apresentava um plantel de 88 escravos, e com a
aquisição daquela propriedade o barão implementou então vastas plantações de
café, agregando-as ao cultivo já bastante lucrativo da fazenda de Monte Alegre.
Por outro lado, a criação dos famosos cavalos Manga Larga manteve-se em
atividade, e a fazenda passou à história como um dos centros mais capacitados
na produção destes animais. Tal atividade somente perdeu fôlego após a morte do
barão, em 22 de novembro de 1861, e especialmente depois da Abolição da
Escravatura, quando a família Werneck entrou em declínio financeiro por conta
da perda da qualificada mão-de-obra escrava. istóia comomum dos centos mais qualificadosHistória
Em 1862 -
ano seguinte à morte do Barão e com suas propriedades sendo administradas pela
viúva baronesa Maria Isabel Assunção Ribeiro de Avelar Peixoto de Lacerda de
Werneck - esse total caiu para 71, valendo todos eles cerca de Rs. 94:500$000
(noventa e quatro contos e quinhentos mil réis). Deve-se aqui lembrar que nessa
época o valor de um escravo variava de Rs. 200$000 (duzentos mil réis) a Rs.
2:000$000 (dois contos de réis), caso ele se revelasse um bom capataz, e negro
algum, por qualquer motivo que fosse, era considerado "totalmente sem valor"
pelos fazendeiros.
Mesmo
estando bem próxima de Monte Alegre, e quase no coração da Vila de Paty do
Alferes, Manga Larga possuía instalações mais modestas do que a "adorada e
preferida Monte Alegre" do barão: sua casa de vivenda (Manga Larga de Baixo)
recebera apenas Rs. 2:500$000 (dois contos e quinhentos mil réis) de avaliação,
e mais três lances de casa de sobrado (hoje desaparecidos) foram avaliados em tão-somente
Rs. 700$000 (setecentos mil réis).
Na próxima edição: Fazenda Monte
Alegre