As origens do Miguel Pereira Atlético Clube - Parte 4

Conclusão do Histórico

 05/01/2024     Historiador Sebastião Deister      Edição 482
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O Miguel Pereira Atlético Clube dominou o cenário futebolístico da cidade por largo tempo, e ao longo de seus vinte e quatro anos de existência como time de futebol, sustentou uma célebre e renhida rivalidade com o Portela Atlético Clube e o Estrela Atlético Clube (o novo nome do velho Estiva Atlético Clube). Em 1954, entretanto, seria disparado o tiro de misericórdia no campo tão arduamente construído em 1930. Atendendo às solicitações enviadas pela Prefeitura de Vassouras, o Departamento de Engenharia do Governo do Estado do Rio de Janeiro visitou Miguel Pereira à busca de um terreno adequado à edificação de um Grupo Escolar, a exemplo do que já fizera em Governador Portela. Todos os estudos técnicos indicavam o local onde se situava o estádio do MPAC como o melhor entre tantos observados em função de seu excelente nivelamento, de sua localização privilegiada no centro da cidade e pela facilidade de acesso à estação ferroviária. Uma vez que o Governo do Estado já adquirira o terreno do seu legítimo proprietário (no caso, Juju), pagando-lhe uma quantia alta e simplesmente irrecusável, nada mais restava à desolada diretoria do clube senão aceitar tais decisões e providenciar a desativação do seu amado campo.

Em clima de profunda consternação, os dirigentes do MPAC reuniram-se no dia 26 de setembro de 1954, às 18 horas, em sua sede à rua General Ferreira do Amaral, nº 60 (local que hoje abriga a loja Gasparzinho Tintas) e ao final do encontro selava-se o destino do campo: ele devia ser imediatamente desativado e repassado às mãos do governo estadual. Apesar de ofícios enérgicos, cartas lamentosas e telegramas urgentes e desesperados enviados ao Departamento de Engenharia do Estado para que outro terreno na cidade fosse doado ao clube para a construção de uma nova praça de esportes, como contrapartida para o desaparecimento daquele estádio histórico, nada nesse sentido foi resolvido a contento, e dessa maneira melancólica desaparecia para sempre da cidade o futebol do Miguel Pereira Atlético Clube. Em relação à mencionada reunião e à desativação do campo, transcreveremos a seguir a Ata nº 21 do encontro, em suas folhas 47-v, obtida nos livros do MPAC:

 

"Aos vinte e seis dias do mês de setembro de mil, novecentos e cinquenta e quatro, na sede do Miguel Pereira Atlético Clube, sito à Rua General Ferreira do Amaral, 60, às 18 horas, reuniu-se a diretoria do Clube para tomar conhecimento da consulta feita pelo Departamento de Engenharia do Estado do Rio de Janeiro, no sentido se concordaria o MPAC com o breve início da construção do prédio do Grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes no seu antigo campo de esportes, presentemente adquirido pelo referido Governo para esse fim ao Sr. Calmério Rodrigues Ferreira. Fazendo a exposição, e apresentando o processo de compra para o novo terreno para a nova praça de esportes do MPAC, o 1º Secretário que a esta subscreve, deu conhecimento aos demais membros da diretoria, das demarches que vem fazendo em companhia do antigo associado Francisco Antônio Marinho Andreiolo, junto ao Governo, por meio de ofícios, telegramas, cartas e conversações pessoais no palácio do Ingá, na Assembleia Legislativa e no Departamento de Engenharia, no sentido de ser pelo Estado adquirido com urgência um terreno para nele ser instalada a nova praça de esportes do MPAC, tendo juntado ao processo a planta e carta de proposta de venda do aludido terreno do seu proprietário senhor Geraldino Caetano da Fraga Filho. Com exceção única do Vice-Presidente Paulo Machado, os demais diretores concordaram que fosse feito um ofício ao Governador do Estado colocando à sua inteira disposição o campo já de propriedade do Estado, para o início das obras do Grupo Escolar. Neste sentido foi redigido um ofício ao senhor Governador. Nada mais havendo a tratar-se mandou o Sr. Presidente que esta fosse encerrada e assinada pelos presentes e por mim, Zair Pragana, 1º Secretário, que a escrevi.

Aprovada em Assembleia de 26 de setembro de 1954, assinada então por Abraham Larrat, na qualidade de Secretário Geral."

 Ao contrário do que hoje podemos imaginar, não houve choros ou revoltas na cidade, mas sim um inexprimível e profundo sentimento de perda e frustração, uma estranha e curiosa sensação de que nada valera a pena, a conformação estoica de encarar o inevitável. Afinal - diziam muitos, como a consolar a si mesmos e suportar os deboches do pessoal do Estrela - perde-se um campo de futebol, mas ganha-se um admirável colégio para os jovens da terra. Por outro lado, o clube não desapareceria para sempre. Sua parte social continuaria ativa, com a promoção de bailes, festas, shows e demais atividades de lazer em sua sede social.

Pedra fundamental da nova sede

Com a rápida prosperidade de Miguel Pereira a partir de sua emancipação em 1955, também o MPAC cresceu bastante. Com a expansão de seu quadro social e a consequente necessidade de instalações mais amplas e modernas, seus adeptos passaram a exigir uma nova sede cujas dependências fossem condizentes com o gabarito da cidade e do próprio clube. Assim, em 1964, tendo como presidente o Sr. José Tertuliano Gomes e como presidente do Conselho o Dr. Manoel Vieira Muniz, foi lançada a pedra fundamental da nova sede do Miguel Pereira Atlético Clube, ao final da atual rua Prefeito Manoel Guilherme Barbosa, na época uma simples via de terra batida em cujas margens hoje levantam-se também a Prefeitura Municipal e o Pavilhão de Promoções Juscelino Kubistchek de Oliveira. A construção das novas instalações do MPAC contribuiu ainda para a urbanização daquele recanto da cidade e, por coincidência, a nova sede do clube seria alocada em terras de Calmério Rodrigues Ferreira, o Juju, seu grande benemérito do passado.

Presidentes do MPAC

Além dos primeiros presidentes do MPAC - Manoel Bernardes Sobrinho (de 1930 a 1936) e Dr. Osvaldo de Araújo Lima (de 1937 a 1940) - dirigiram o clube Antônio Navarro Lins, Miguel Levy, Paulo Machado, Antônio Luiz Batista Lopes, Geraldo Saraiva, Mário Vasconcelos Lopes Rêgo, Manoel Guilherme Barbosa, José Tertuliano Gomes, Dr. Gilberto dos Santos, Vicente Mesquita, Dr. Eugênio Albino dos Santos, Manoel Vieira Muniz, Roberto Ricardo Pires Vieira, Antônio Carlos Vilela, Fructuoso da Fonseca Fernandes, Abraham Medina, Dionísio Queiroz, Conrado Amadeu Armelão, Moacir Machado, Sérgio Pereira Leitão, Wilson Zacharias, Dr. Fernando Pontes Moreira, Marco Aurélio Tamer Casa Nova e outros mais recentes.

Estrutura do MPAC

O clube hoje conta com amplo salão de bailes, restaurante, hotel, quadra polivalente coberta, quadra de areia para vôlei, quadras de tênis, piscinas para adultos e crianças, sauna, play-ground, sala de massagens, clínica de estética, sala para musculação, dança e ginástica, bar na piscina, quadra e futebol society. Também o aspecto físico do salão de bailes, do hotel e do restaurante tem merecido a atenção das últimas diretorias, recebendo obras de ampliação e modernização de todas as suas dependências, assim como a promoção de grandes espetáculos com alguns consagrados nomes da música popular brasileira. Deve-se destacar ainda, no complexo, a construção de uma nova e belíssima área de recepção e um amplo pátio de estacionamento reservado aos visitantes.

Nos últimos anos, o clube canalizou grande parte de seu orçamento para os chamados esportes indoor. A antiga quadra de futebol de salão foi remodelada e adaptada ao sistema de polivalência esportiva, além de receber nova cobertura. Assim, nela pode-se praticar o vôlei, o futsal, o hand-ball e o basquete de maneira segura e confortável, tanto que suas equipes de futsal e vôlei já participaram com destaque dos torneios estaduais promovidos na região pela TV Rio Sul. Portanto, se o futebol de campo desapareceu em função de conjunturas político-sociais impossíveis de serem evitadas ou pelo menos contornadas, o município hoje dispõe de uma associação que oferece aos miguelenses praticamente todas as modalidades esportivas em voga. De qualquer forma, o MPAC de décadas atrás deixou exemplos marcantes para muitas gerações de miguelenses. Agora, após completar 93 anos de existência, permanece em silenciosa expectativa, cultivando esperanças e aguardando novos diretores que possam conduzi-lo com carinho e segurança às celebrações de seu centenário em 26 de abril de 2030. Por outro lado, corre na justiça um processo de larga escala que tenta sustar a venda absurda e, aparentemente ilegal do clube por parte de seu último presidente. Assim, a cidade encontra-se mobilizada em defesa do MPAC e na expectativa da decisão final do judiciário.

 IMAGEM: Centro de Miguel Pereira em 1964. Ao fundo, a sede do MPAC.

 Na próxima edição: Memórias de Paty do Alferes